Abrir capital e manter a empresa operando neste formato é mais barato no Brasil do que nos Estados Unidos. É o que aponta o estudo “O IPO [Initial Public Offering] como alternativa para impulsionar o futuro da sua empresa”, realizado pela PwC. Para 67% das empresas brasileiras ouvidas, os custos de ser uma empresa de capital aberto estão alinhados às expectativas – para os americanos, esse indicador é de 50%. No Brasil, 8% das companhias citam que os valores ficam abaixo do esperado – nos EUA, não há menção nesse sentido.
Dois terços dos executivos ouvidos afirmam que, no Brasil, o custo de operação como companhia aberta é menor do que US$ 400 mil ao ano, enquanto nos Estados Unidos a maior parte dos respondentes estimou entre US$ 1 milhão e US$ 1,9 milhão.
“Os americanos precisam seguir regras pesadas de segurança obrigatórias. Há uma cobrança do mercado, alinhado às expectativas. Esse maior controle sobre a movimentação financeira cria um custo grande de documentação e transações, porém melhora a governança.”
Kieran McManus, sócio da PwC Brasil e um dos responsáveis pela pesquisa
INFOGRÁFICO: Por que as empresas querem abrir capital e que diferença encontram entre Brasil e EUA
A pesquisa aponta que o porte da empresa influencia no custo total: quanto menor ela for, mais dinheiro terá que investir neste processo de abertura. No país, os gastos variam de 2,5% a 5,6% do valor total da oferta: nos EUA, o índice varia de 4% a 11,7%.
“No Brasil, muitas empresas de IPO já contam com uma certa estrutura, por isso o adicional as ações a serem feitas é menor. Nos Estados Unidos, há diversas empresas menores que necessitam de várias adequações”, ressalta McManus. Entre os custos mencionados, estão as despesas com os coordenadores da oferta (bancos de investimentos), assessores jurídicos e auditores, além das taxas legais.
Especialista em Contabilidade e Finanças pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ricieri Gabriel Calixto, coordenador tributário do escritório Salamacha Associados, que atua com consultoria empresarial, avalia que o mercado brasileiro ainda não é tão denso, o que justifica a diferença de custos.
“É muito provável que esses custos se aproximem nos próximos anos, até mesmo devido aos aspectos de compliance. A diferença decorre da realidade do Brasil: esses custos ainda são pequenos, mas vão crescer pela necessidade das questões financeiras”, analisa.
A pesquisa foi realizada a partir da análise das ofertas de ações realizadas no Brasil de janeiro de 2004 a abril de 2018, além de entrevistas com profissionais. A comparação entre os dois países foi feita tomando como base um estudo desenvolvido pela PwC nos Estados Unidos.
Para McManus, o objetivo da pesquisa está em dar informações necessárias às empresas em relação à preparação para o IPO e a essa solução em si. “As empresas podem discutir o assunto antes de se envolver efetivamente, conhecendo os custos e processos. Quando há uma melhor preparação, o caminho é menos traumático”, diz.
Maturidade de mercados
No último dia 9, a bolsa de valores paulista superou a marca de 1 milhão de investidores pessoas físicas, segundo a B3, o equivalente a aproximadamente 0,5% da população do país investindo em ações. Nos Estados Unidos, as pesquisas mostram que, ao fim de 2017, o país tinha aproximadamente 176 milhões de habitantes – 54% da população –, conforme a LPL Research. Antes da crise de 2008, quase dois terços (65%) tinham recursos alocados nas bolsas de valores dos EUA.
Para McManus, essa diferença de realidades faz com que as empresas atuem de forma distinta nos dois países. “Nos Estados Unidos, a venda inicial de ações ataca um público enorme. No Brasil, há um potencial menor de pessoas, e a forma de comunicação, com um número reduzido de pessoas físicas, é diferente”, avalia.
Não à toa, muitas empresas brasileiras realizam a oferta inicial em solo americano. É o caso, por exemplo, da credenciadora de pagamentos Pagseguro, que, em janeiro do ano passado, arrecadou US$ 2,27 bilhões em sua oferta inicial na Bolsa de Nova York.
“É muito difícil falarmos em um IPO de R$ 10 bilhões no Brasil. O mercado norte-americano oferece condições muito distintas. As empresas que abrem capital lá passam por uma peneira muito maior. É uma bolsa estupidamente profissional e madura, não que a brasileira não seja, mas é muito mais.”
Luis Roberto Antonik, phD em Administração e professor da FAE em Mercado de Capitais
A captação de recursos, aliás, aparece em primeiro lugar entre as motivações para que as empresas abram capitais. No entanto, nem todas as razões são financeiras: aspectos de sucessão e perenidade, visibilidade para o mercado e clientes e até fusões e aquisições (M&A, em inglês), estão entre os outros motivos para o IPO – veja mais, no infográfico.
A Medida Provisória 881, que trata da Liberdade Econômica e dispõe, entre outros temas, de uma simplificação de acesso ao mercado de capitais para empresas, pode ser a porta de entrada para companhias menores e até mesmo startups. “Nos EUA, existem regras especiais para essas empresas. O Brasil ainda está nessa discussão”, diz McManus.
Para Antonik, qualquer medida para facilitar o processo de abertura de capital deve ser elogiado. No entanto, segundo ele, o fato é que a exigência de uma sociedade anônima pode inviabilizar este processo. “As razões são várias, mas principalmente o custo. Os profissionais terão que ser melhores, mais especializados devido à transparência. Se a empresa for uma sociedade limitada, não há essa necessidade”, avalia.
Compasso de espera pela reforma da previdência
O ambiente econômico do país está diretamente relacionado ao funcionamento de sua bolsa de valores e do interesse das empresas em abrir capital. De acordo com sócio da PwC Brasil, Kieran McManus, muitas companhias estão aguardando o andamento da reforma da previdência para considerar um IPO.
“Após vários anos de recessão, há a expectativa de que a atividade econômica volte a ajudar a educar o mercado sobre esse processo, já que não tem tido muitos exemplos recentes. Esperamos que as empresas tenham coragem de pelo menos avaliar esse processo. Muitas delas precisam desse acesso para crescer, o que é importante para o país”, revela McManus.
Ricieri Gabriel Calixto, do escritório Salamacha Associados, segue um raciocínio semelhante. “Quando não está na bolsa, a empresa consegue recursos com garantias para devolução que podem não ser muito vantajosas. Com a garantia da CVM [Comissão de Valores Mobiliários], esse custo é menor. Por isso, há forte tendência que, em 2019 e em 2020, ocorram IPOs, dependendo da melhora do ambiente de negócios do Brasil”, opina.
O custo e o benefício da governança
Uma das legislações americanas, a Lei Sarbanes-Oxley (SOx) é apontada pelo relatório como um dos fatores por trás das diferenças de custos. A legislação visa aprimorar a governança corporativa, a prestação de contas e os controles das companhias.
Mais de 43% das empresas americanas gastam US$ 1 milhão por ano apenas para estar em linha com essa lei. Na avaliação de McManus, o compliance não pode ser entendido apenas como custo. “Há dois lados sobre a governança. Aquelas [empresas] que têm um controle melhor, são capazes de ter uma precificação melhor para captar mais dinheiro. É difícil falar do custo da governança sem mencionar os seus benefícios”, diz.
Confira no infográfico o que motiva as empresas a abrir capital e também as diferenças de custo de se fazer isso nos EUA e no Brasil, segunda as percepções das empresas daqui e de lá:
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