A China não se classificou para esta edição da Copa do Mundo, mas conseguiu, de outra maneira, entrar em campo na Rússia. E em todos os jogos. Telespectadores mais atentos já repararam em placas publicitárias com caracteres estranhos e marcas desconhecidas do público ocidental — alguns até fazem piadas com marcas como “Wanda”. São as chinesas.
A forte presença de marcas chinesas como patrocinadoras do torneio é um reflexo dos escândalos de corrupção que devastaram a entidade máxima do futebol nos últimos anos. Para evitar associações indesejáveis, tradicionais patrocinadoras da Copa do Mundo, como a japonesa Sony e a norte-americana Johnson & Johnson, não renovaram os acordos que tinham com a FIFA.
Foi por essas brechas que marcas como Hisense e Wanda Group conseguiram espaço na outrora disputada lista de parceiros da FIFA.
Ao jornal inglês The Guardian , Simon Chadwick, professor de negócios esportivos na Universidade de Stanford, disse que “como a FIFA agora é vista como uma marca tóxica para muitas empresas ocidentais, que não querem ser associadas a ela, a China está aproveitando a oportunidade”.
Wang Jianlin, bilionário chinês dono da quinta maior fortuna individual do país e dono do grupo Wanda, disse também ao jornal inglês que “há dois ou três anos, marcas chinesas e asiáticas provavelmente não teriam uma chance de patrocinar a Copa do Mundo, mesmo se quisessem”. Ainda segundo Wang, esse investimento se alinha às ambições do país de se tornar uma potência no futebol até 2050.
Apesar do reforço oriental, a arrecadação da FIFA com patrocínios foi menor neste ciclo (2015-2018): US$ 1,45 bilhão contra US$ 1,62 bilhão do anterior, 2011-2014 — incluindo a Copa do Mundo no Brasil. Os dados são da Nielsen.
No total, quatro dos 12 patrocinadores globais da Copa são chineses. O país asiático empata na liderança com os Estados Unidos — outro país que não se classificou para esta edição do torneio —, representados por Budweiser, Coca-Cola, McDonalds e Visa. Fecham o grupo uma alemã (Adidas), uma sul-coreana (Hyundai), uma catarense (Qatar Airways) e uma russa (Gazprom).
As marcas chinesas da Copa do Mundo
Duas das quatro chinesas são do setor de tecnologia. A Hisense desenvolve e fabrica aparelhos da linha branca e TVs, tanto com a própria marca como outras — nos Estados Unidos, as TVs da Sharp são todas fabricadas pela Hisense.
A Vivo, apesar de homônima à operadora de internet e telefonia do Brasil, marca da espanhola Telefônica, é chinesa. Ela faz parte do grupo BBK, um dos maiores do mundo, e está aproveitando o evento para anunciar o Vivo Nex, um curioso smartphone cuja tela ocupa toda a parte frontal e que esconde a câmera de selfies em um mecanismo que lembra um periscópio.
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O Wanda é um conglomerado com braços em vários segmentos da economia. Tem um estúdio de cinema, onde foram rodados o último Godzilla e Se Beber, Não Case; a fabricante de iates de luxo Sunseeker; e uma fatia do clube espanhol Atlético de Madrid. Também tem negócios culturais na China e presença no setor de seguros, microcrédito e investimentos diversos. É a única chinesa “FIFA Partner”, o nível mais alto de patrocínio que a FIFA oferece.
Fecha o grupo a Mengniu, fabricante e distribuidora de laticínios — e que conta com o astro argentino Lionel Messi como garoto propaganda.