O investidor que quiser comprar uma parte da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) terá até o dia 23 de outubro para fazer a reserva de ações. A oferta da Bovespa, cuja estréia no pregão está marcada para 26 de outubro, deverá render R$ 5,3 bilhões. Essa é uma das operações mais aguardadas pelo mercado, junto com com a abertura de capital da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), que deve ser realizada até o fim do ano. Somados, os dois lançamentos poderão render perto de R$ 10 bilhões.
O IPO (lançamento inicial de ações, na sigla em inglês) da Bovespa colocará à venda de 250,5 milhões de ações. Dependendo da demanda, um lote suplementar de mais 37,6 milhões de papéis pode ser ofertado. O preço de venda sugerido pelos bancos coordenadores varia de R$ 15,50 a R$ 18,50. As ações vendidas são todas ordinárias (ON, com direito a voto) e vão ser listadas no Novo Mercado, o segmento criado pela própria Bovespa para as empresas com práticas diferenciadas de governança corporativa. No processo de desmutualização como é chamada a abertura de capital das bolsas os títulos patrimoniais que as corretoras detêm se transformam nas ações que serão ofertadas ao mercado. Serão essas ações, já existentes, que irão a leilão. Até 20% do total ofertado vai para pequenos investidores do varejo. A aplicação mínima é de R$ 3 mil. A definição do preço de venda do papel sai dia 24.
A Bovespa é considerada a maior bolsa da América Latina, com capitalização bursátil (valor das empresas listadas em pregão) de R$ 2,3 trilhões. O volume médio diário movimentado aumentou de R$ 558 milhões em 2002 para R$ 2,4 bilhões no ano passado, graças ao "boom" do mercado de capitais brasileiro nos últimos anos. A média desse ano está em R$ 4,3 bilhões. No acumulado de 2007, já foram mais de 50 lançamentos. Ontem estrearam as ações do BicBanco e das construtoras Tenda e Trisul. O Ibovespa, indicador que acompanha os preços das ações mais negociadas, encerrou o pregão de ontem em alta de 0,82%, aos 62.969 pontos. O volume financeiro foi de R$ 9,79 bilhões.
Uma das novidades da abertura de capital da Bovespa é que pela primeira vez será usado um filtro contra investidores "flipper", jargão usado no mercado para especuladores de primeira hora, que reservam ações de novatas para vender logo na largada, de olho no lucro rápido. A Bovespa vai usar o CPF dos investidores para apurar o histórico de aplicações dos interessados nas ações. Esse mecanismo, segundo analistas, poderá ser seguido por outras empresas na abertura de capital.
Para André Paes, gestor de fundos do Paraná Banco, a oferta da Bovespa deve atrair um grande número de interessados e, para o pequeno investidor, deve ser uma oportunidade de aplicação por meio de clubes de investidores e fundos diversificados. As ações da Bovespa Holding, empresa formada como resultado da abertura de capital, serão negociadas em pregão como os papéis das demais empresas de capital aberto, portanto sujeitas à oscilação do mercado.
Para Christian Majczak, da Go4 Consultoria, com a abertura da Bovespa, o mercado de capitais entra em uma nova fase, com barateamento do acesso de corretores à bolsa, com o fim da mutualização exigência da aquisição de títulos patrimoniais pelas corretoras para negociar na bolsa. "A bolsa também passa de uma instituição sem fins lucrativos para uma sociedade anônima visando o lucro", diz.
A estratégia da Bovespa e da BM&F segue o caminho já trilhado por outras bolsas de valores no mundo, como as de Frankfurt, Londres, Hong Kong, Nova Iorque e a Nasdaq, que já têm ações listadas em pregão. "Há um processo de consolidação nesse mercado e a abertura de capital da Bovespa pode ser encarada também como defesa para não se transformar em alvo de aquisição", afirma André Paes.