Familiares e amigos cobram lista de passageiros no balcão da TAM no Salgado Filho| Foto: José Ernesto/Correio do Povo

Crise no setor aéreo encarece seguros, eleva risco-país e reverte investimentos

O acidente com o Airbus A-320 da TAM, em São Paulo, é visto por analistas como um potencializador dos efeitos danosos que o caos aéreo vinha provocando na imagem e na economia do Brasil. Os prejuízos atingem, além do setor de transporte de passageiros, o transporte de cargas e o seguro dessas mercadorias. O setor privado poderá rever a decisão de investir no país e a soma desses fatores pode até implicar em nova escalada do risco-país, que vem sendo reduzido gradualmente há alguns anos.

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Avião acelerou durante o pouso

São Paulo – A Infraero liberou ontem imagens de dois vídeos que mostram o momento da tentativa de pouso do Airbus A320 da TAM, que explodiu ao se chocar com o prédio da TAM Express, onde fica o setor de cargas da empresa, em frente ao Aeroporto Internacional de Congonhas, em São Paulo. A aeronave fazia o vôo JJ 3054 de Porto Alegre a capital paulista.

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Influenciadas pelo acidente com o avião do vôo 3054 da TAM, as ações das duas principais companhias aéreas do país fecharam o pregão de ontem da Bovespa em forte baixa. As ações preferenciais (sem direito a voto) da TAM encerraram a sessão no patamar mais baixo do dia (R$ 60,30), com desvalorização de 9,07% – a maior desde a estréia da empresa na Bolsa paulista, em 2005. Os papéis preferenciais da Gol sentiram o impacto da queda da concorrente e recuaram 2,64%, em R$ 54,90. Embora não tenha relação com o acidente de terça-feira, a fabricante de jatos Embraer teve recuo de 1,37%, cotada a R$ 22,21 por ação.

O desempenho da TAM foi o pior do Ibovespa (indicador dos principais papéis negociados na Bolsa), que ontem acompanhou as bolsas norte-americanas e teve leve recuo de 0,18%, caindo para 57.556 pontos, após estabelecer recorde histórico na véspera.

A queda da TAM foi bem mais forte que a baixa de 1,85% sofrida pelos papéis da Gol logo após o acidente com o vôo 1907, em setembro de 2006. Na época, as ações da Gol demoraram apenas dois pregões para se recuperar – poucos imaginavam que o acidente daria início à maior crise da história da aviação brasileira.

Com muitos investidores vendendo ações e alguns aproveitando a desvalorização para comprá-las a preços mais baixos, a TAM registrou ontem o maior número de negócios do dia: 6.066, movimentando cerca de R$ 275,6 milhões. O volume foi muito superior à média da companhia, que geralmente não registra mais que mil negócios por dia. A Gol, por sua vez, teve 3.189 negócios – a média diária neste mês estava abaixo de 1,5 mil –, movimentando R$ 105,3 milhões.

O mercado avalia que, no curto prazo, o acidente deve limitar o desempenho das aéreas na Bovespa. No entanto, elas devem se recuperar nas próximas semanas. "Uma oscilação como a de hoje (ontem) é atípica para a TAM. Sabemos que, sozinha, essa tragédia não vai fazer o faturamento da empresa cair 9%", disse Gustavo Oliveira de Andrade, agente de investimentos da curitibana Investflow.

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Para Eduardo Grafulha, agente da XP Investimentos, de Porto Alegre, é provável que nos próximos dias Gol e TAM mantenham os níveis atingidos hoje. "Mas a tendência natural é que eles voltem ao patamar anterior em seguida", disse Grafulha. Apesar da expectativa de recuperação, a maioria dos analistas recomenda aos investidores que aguardem mais um pouco antes de decidir se aplicam seu dinheiro em companhias do setor aéreo.

Em relatório, a corretora Brascan avaliou que o impacto financeiro para a TAM é mínimo, pois a aeronave tinha seguro, que também cobre as indenizações. O maior problema, para a corretora, está na credibilidade do setor. "O fato de a pista de Congonhas ter sido liberada sem conclusão da última etapa causa impacto ainda maior na credibilidade da aviação comercial no Brasil", disse o relatório. Segundo a Brascan, "a demanda do setor aéreo deverá sofrer negativamente", e a eventual realocação de rotas para outros aeroportos próximos a Congonhas, como Guarulhos e Viracopos, pode elevar os custos das companhias.

O banco norte-americano Citigroup rebaixou a recomendação aos papéis das companhias nos EUA de "compra" para "manter", reduzindo o preço-alvo de 12 meses das ações da TAM de US$ 55 para US$ 41 e da Gol, de US$ 52 para US$ 37. Na avaliação do banco, a tragédia deve atrasar a recuperação das margens operacionais das empresas, que já vinham sendo prejudicadas pela crise nos aeroportos. Mas, para André Pinheiro, operador da corretora Planner em Curitiba, o chamado "apagão aéreo" já está "precificado" (assimilado) pelo mercado e dificilmente provocará baixas mais expressivas.

Embora tenha sofrido o impacto mais forte após o acidente, a TAM apresenta números mais favoráveis que a concorrente: acumula desvalorização de 6% em julho e de 8% desde o início do ano, mas nos últimos 12 meses teve alta de quase 16%. A Gol, por sua vez, registra baixa de 14% neste mês e de 12% em 2007 – desvalorização idêntica à acumulada nos últimos 12 meses.