Investidores castigavam as ações de pequenos e médios bancos brasileiros nesta quarta-feira, no dia seguinte ao anúncio de que o Panamericano receberá um aporte de 2,5 bilhões de reais de seu controlador, após a descoberta de "inconsistências contábeis" cujos detalhes não foram divulgados.
Uma fonte do Banco Central afirmou à Reuters que a solução dada ao desequilíbrio do Panamericano foi a "ideal", ao preservar os interesses dos depositantes e sem ter participação de recursos públicos. A fonte do BC descartou um risco sistêmico nos bancos e disse que não há "nenhuma preocupação" nesse sentido.
Na noite de terça-feira, o Panamericano informou sobre a injeção de capital no banco pelo Grupo Silvio Santos, que tomará recursos do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), em operação para restabelecer o equilíbrio patrimonial e a liquidez da instituição financeira.
As ações do Panamericano desabavam 31% às 13h54, cotadas a 4,67 reais. Na véspera, os papéis já tinham perdido quase 7 %, antes mesmo da divulgação do fato relevante pelo banco.
Outros bancos de menor porte na Bovespa também perdiam valor nesta sessão, entre eles Sofisa com queda de 4,4%, Pine com desvalorização de 3,8% e BicBanco recuando 4,7%.
Conforme o documento encaminhado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pelo Panamericano, as falhas contábeis, que não foram detalhadas pelo banco, impendem que o balanço reflita a real situação patrimonial da instituição. Toda a diretoria do banco foi alterada e uma assembleia de acionistas convocada para eleição de um novo Conselho de Administração.
O FGC disse que o Panamericano tinha uma escassez de capital significativa, mas que não vê necessidade de aporte adicional de recursos no banco.
Além do Grupo Silvio Santos, que deu como garantia ao FGC o seu patrimônio, o Panamericano tem a Caixa Econômica Federal como acionista relevante. Em dezembro do ano passado, a Caixa, controlada pelo governo federal, comprou 49% do capital votante e 20,69% das ações preferenciais do Panamericano por 739,2 milhões de reais.
A Caixa descarta colocar mais dinheiro no Panamericano e também assumir o controle do banco, disse à Reuters uma fonte com conhecimento do assunto, sob condição de anonimato.
No mercado, investidores se perguntavam como um rombo de 2,5 bilhões de reais ficou despercebido e como a Caixa não detectou qualquer problema no Panamericano na ocasião de sua entrada no capital da instituição.
A Caixa foi assessorada pelo Banco Fator e pela empresa de auditoria KPMG. A operação depois passou pelo crivo da BDO. O Panamericano tem a Deloitte como auditora externa.
A fonte do BC disse que a autoridade fará uma investigação para saber a origem dos problemas no Panamericano. "É uma investigação que leva um certo tempo. Se forem detectados desvios de conduta vistos na legislação, o Brasil vai atuar administrativamente, e outras instâncias vão agir na área civil."
A agência de classificação Moody's colocou em revisão os ratings do Panamericano para rebaixamento, citando a indicação de "fraqueza dos controles e do gerenciamento de risco do banco". A Moody's dá nota "D" para força financeira do Panamericano e "Ba2" na escala global para dívida em moeda estrangeira e local.
O Panamericano divulgou em agosto que encerrou o segundo trimestre com carteira de financiamentos, incluindo as cessões de crédito, em quase 11 bilhões de reais, alta de 20,9% em 12 meses.
Os ativos totais, segundo os dados publicados pelo banco, estavam em 12,6 bilhões de reais em junho, alta de 6,5% sobre março. Mas o patrimônio líquido da controladora situava-se em 1,6 bilhão de reais, queda de 1,7 na comparação com o primeiro trimestre deste ano.
O índice de Basileia estava em 14,3% no meio de 2010, abaixo dos 14,8% registrados em março e inferior aos 20% de um ano antes.