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Um dos frigoríficos da JBS, empresa beneficiada por empréstimo do BNDES.
A JBS, investigada pela Lava-Jato, foi uma das empresas beneficiadas por empréstimos do BNDES.| Foto: Albari Rosa

O pedido de dois senadores para que o Comitê de Investimentos Estrangeiros do Tesouro americano reveja as aquisições da JBS nos Estados Unidos deve atrapalhar os planos da empresa no país que responde pelo maior volume de suas vendas globais.

As ações da JBS caíram 3,9% na quarta-feira após a petição ser apresentada pelos senadores Marco Rubio, republicano da Flórida, e Bob Menendez, democrata de Nova Jersey. O comitê da Secretaria do Tesouro, conhecido por Cfius, é encarregado de supervisionar as transações envolvendo empresas americanas quanto a eventuais riscos à segurança nacional. Pode impor condições para fusões e aquisições, assim como recomendar a suspensão dos negócios.

“Devido à conduta criminosa, já admitida, de conseguir empréstimos para usar em investimentos nos EUA”, assim como por “sua estreita relação com instituições bancárias ligadas ao governo chinês, solicitamos ao comitê do Tesouro que reveja as aquisições de empresas americanas pela JBS”, afirmaram os senadores numa carta conjunta.

Ainda que analistas e investidores vejam poucas chances de a JBS ser forçada a desfazer aquisições em solo americano, o episódio traz à tona, novamente, os malfeitos dos irmãos Batista à frente da multinacional brasileira.

Uma investigação do Cfius fatalmente levantaria questões envolvendo boa governança, o que poderia atrasar o plano da JBS de emitir ações na Bolsa de Nova York, segundo Ricardo Alves, analista na Morgan Stanley.

“Os fatos de hoje podem se tornar um impedimento legal? Ainda não sabemos a resposta para isso, mas não se deve ignorar essa possibilidade”, escreveu Alves num relatório a clientes.

A JBS tem sido um dos grandes beneficiados pela lacuna no setor de carnes criada pela peste suína africana na China. As ações da empresa já subiram 154% na bolsa brasileira neste ano. Uma oferta pública inicial nos EUA, no início do ano que vem, era vista como uma forma de aproveitar o momento e agregar mais valor para as ações da companhia, que ainda são negociadas com desconto no Brasil, em cima de ganhos estimados, e não sobre o excelente desempenho recente.

Com suas operações sob escrutínio, a JBS pode acabar também revendo a estratégia de crescimento nos EUA e até desistir de alguma grande aquisição nesse mercado, segundo Soummo Mukherjee, analista da Lucror Analytics, de Nova York.

Em meados de agosto, o CEO Gilberto Tomazoni avaliou que a JBS tinha se recuperado do escândalo de corrupção no Brasil e havia reduzido suas dívidas, e que estava pronta para a focar em fusões e aquisições, principalmente nos negócios de alimentos processados e de marca. No final daquele mês, a companhia comprou uma empresa de carne suína no Reino Unido. “A possível investigação adiciona incertezas e pode mudar as ambições da JBS por um novo grande negócio nos Estados Unidos”, avalia Mukherjee.

Ainda assim, as notícias não são vistas como negativas para os títulos da JBS, porque os investidores já exigem um prêmio para manter as notas em comparação com as rivais americanas Tyson Foods e Smithfield Foods, que apresentam métricas semelhantes.

Em comunicado por e-mail, a JBS afirmou, terça-feira, que “tem cooperado amplamente, e de forma transparente, com todas as autoridades relevantes em relação aos eventos passados ​​no Brasil e continuará respondendo a quaisquer perguntas subsequentes”. A empresa acrescentou que "cumpre uma função vital para as comunidades agrícolas dos EUA", gerando mais de 60 mil empregos, além da parceria com cerca de 11 mil agricultores do país.

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