O acordo climático assinado na última semana, em Paris, foi o maior avanço diplomático em direção a uma resposta ao aquecimento do planeta. Também deve se tornar um sinal para empresas e investidores de que essa ação pautará o crescimento econômico nas próximas décadas. Se levado a sério, o acordo levará a trilhões de dólares em investimentos em fontes limpas de energia, desenvolvimento de novas tecnologias e adaptação às mudanças climáticas que já estão ocorrendo.
A meta estabelecida é mais ambiciosa do que o esperado. Ao estabelecer como objetivo manter o aquecimento da Terra até o fim do século abaixo de 2°C, em relação à temperatura pré-industrial, e o mais perto possível de 1,5°C, os governos de 195 países se comprometeram a zerar as emissões de gás carbônico na segunda metade do século, começando por uma redução de até 40% até 2030 em relação a 2010.
Esses números não estão no acordo – o que é sua maior fragilidade. Primeiramente, ainda não existem estudos sobre quanto exatamente é preciso cortar das emissões para um cenário de aquecimento até 1,5°C, já que os cientistas trabalhavam com 2°C. Além disso, os países em Paris só precisaram apresentar metas voluntárias. Somados, esses objetivos levariam a um aquecimento de 2,7°C.
“Existem recursos para a economia de baixo carbono, mas é preciso retirar os subsídios dos combustíveis fósseis.”
“O aquecimento até hoje já passou de 0,8°C. A expectativa agora é que haja cobrança em cima dos cortes de emissões propostos e que as revisões a cada cinco anos levem a metas maiores”, explica Guilherme Karam, coordenador de estratégias de conservação da Fundação O Boticário.
Iniciativa privada
Pelo que se viu em Paris, a iniciativa privada quer participar do processo de descarbonização. Vários grupos representando empresas, como o We Mean Business, que tem em seus quadros 360 grandes grupos, como Coca-Cola, Microsoft e Carrefour, pressionaram pela aprovação do acordo.
Não é por acaso. Alguns cálculos mostram que será necessário multiplicar por quatro o investimento em geração de energia limpa até se chegar a US$ 1 trilhão por ano, em um desafio gigantesco. Serão necessários investimentos também em agricultura de baixo carbono, redução de emissões de aterros sanitários, entre outros.
Soluções
“Muitas empresas foram a Paris para mostrar que têm soluções”, diz Marina Grossi, presidente do Centro Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). “Existem recursos para a transição para a economia de baixo carbono, mas é preciso retirar subsídios para combustíveis fósseis e investir em tecnologias limpas.”
Uma das entidades presentes em Paris, a Low Carbon Technology Partnership Initiative mostrou nove ações empresariais que cumpririam 65% das reduções de emissões necessárias até 2030. Seriam gerados entre US$ 5 trilhões e US$ 10 trilhões em oportunidades de negócios e até 10 milhões de empregos. “O gargalo agora é resolver a fonte de financiamento. Os recursos existem, mas estão no lugar errado”, completa Marina.