O eurodeputado português José Manuel Fernandes, que está em Brasília, pediu à União Europeia (UE) e ao Mercosul que aproveitem a "oportunidade" para finalizar o acordo comercial durante as presidências espanhola e brasileira de ambos os blocos nos próximos meses.
A afirmação ocorre em meio à viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Itália e França, em que está tendo reuniões bilaterais para pressionar pelo andamento das negociações. O acordo entre os dois blocos comerciais está travado principalmente por conta de restrições impostas pelo parlamento francês à chancela dos países europeus.
"É como uma conjunção de astros", disse à Agência EFE em relação a essa coincidência que se dará no segundo semestre deste ano, quando a Espanha presidirá a UE e o Brasil fará o mesmo no Mercosul, o que abre uma "janela de oportunidades" que vai até o final do ano.
Segundo Fernandes, a isto se deve agregar que no Parlamento Europeu existe atualmente “uma maioria” a favor do acordo com o Mercosul, que poderá mudar a partir de julho de 2024, quando serão eleitos novos eurodeputados.
Também afirmou que a presidência espanhola no segundo semestre deste ano será "entusiasta" com este acordo comercial, independentemente do resultado das eleições presidenciais de 23 de julho, uma vez que tanto o Partido Popular (PP) como o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) são "amplamente favoráveis" à sua ratificação.
"Depois da Espanha" na presidência da UE seguirá para a Bélgica, "que não é tão favorável", e no segundo semestre de 2024 será sucedida pela Hungria, "que é uma incógnita", disse.
Exigências adicionais
Fernandes estava convicto de que os novos entraves decorrentes do protocolo adicional sobre o meio ambiente que a UE propôs, e não convence o Mercosul, não serão um obstáculo para se chegar a um acordo que vem sendo negociado desde 1999 e concluído em 2019.
Ele especificou que este protocolo não implica "uma exigência", mas que é uma "proposta" que deve ser negociada e que neste momento depende de uma resposta do Mercosul, que ainda não foi apresentada.
“Ainda há muito espaço para negociar”, considerou o eurodeputado português, destacando que ambos os blocos devem também ter em conta que este acordo vai muito para além do estritamente comercial.
"Seria um reforço de uma posição geopolítica" e de "valores compartilhados" que "teriam repercussões positivas em toda a América Latina e até na África", continente com o qual, sobretudo, o Brasil têm "fortes laços", disse.
Segundo Fernandes, estes “valores compartilhados” passam pela defesa da “democracia, do estado de direito, da liberdade, da vida e da dignidade humana” e de “princípios como a igualdade, a solidariedade e até a sustentabilidade ambiental”.
“Sobre esses valores será possível construir as bases para um desenvolvimento sustentável, inclusivo, que ajude a reduzir a pobreza e combater as desigualdades, tendo a cooperação como palavra-chave”, declarou.
Fernandes integra uma comissão do Parlamento Europeu que esta semana se reuniu com autoridades governamentais e da sociedade civil do Brasil, um dos dez países do mundo que têm uma "parceria estratégica" com a UE.
Apesar disso, lamentou que a última cúpula Brasil-UE tenha sido realizada em 2014, apesar de ser proposta como um mecanismo anual.
"É uma sociedade que deve ser fortalecida, que tem dimensões de sustentabilidade, direitos humanos, combate à pobreza e muitas outras, como a cooperação científica, nas mais diversas áreas, que incluem até o cuidado das selvas e dos oceanos, que são de interesse tanto para Brasil como para a UE", destacou.
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast