A decisão do governo de atender aos pedidos da Bolívia e aumentar de 19 para cerca de 24 milhões de metros cúbicos a compra de gás do país andino deverá custar cerca de US$ 270 milhões ao Brasil, segundo cálculos preliminares.
No início da tarde de sexta-feira passada o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, anunciou que a compra de gás boliviano fora reduzida de 30 para 19 milhões de metros cúbicos por dia, o que geraria, para o Brasil, uma economia de US$ 600 milhões até abril
Horas depois, após receber uma comitiva boliviana liderada pelo ministro do Planejamento, Carlos Villegas, Lobão informou que a importação do combustível subiria para 24 milhões de metros cúbicos. Com o recuo, a economia com a compra de gás deverá cair dos US$ 600 milhões para cerca de US$ 330 milhões.
O governo negou que o recuo tenha tido motivação política. Mas a primeira decisão (de reduzir para 19 milhões de metros cúbicos) foi ratificada por um colegiado técnico, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE). A segunda, de elevar as compras, foi anunciada após uma reunião de caráter político e diplomático, da qual participaram o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, e o secretário-geral do Itamaraty, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães.
"Não deu outra, mais uma vez o Brasil está ajudando a Bolívia, e com o nosso dinheiro", disse o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
O ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) David Zylbersztajn também criticou a mudança repentina de postura do governo brasileiro. "É um vai e vem, que traz uma situação de total indefinição", disse.
Para Adriano Pires, a Bolívia pressionou o Brasil para evitar uma "perda dupla" em um dos setores mais importantes de sua economia. Isso porque, com a queda da cotação do petróleo, a próxima revisão contratual do preço do gás - que deve acontecer até abril - deve levar a uma redução das tarifas pagas pela Petrobras. Na sua estimativa, o preço deverá cair dos atuais US$ 8 a US$ 9 por milhão de BTU (unidade de medição do gás) para US$ 5 por milhão de BTU. "Eles devem ter pedido para dividir essa conta com o Brasil", disse Pires.
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