Acrescente Singapura à lista das dores de cabeça dos produtores de açúcar. O país que detém um dos maiores consumos per capita da Ásia discute uma campanha de saúde que prevê a proibição da propaganda de refrigerantes com alto teor de açúcar. É o disparo mais recente na batalha dos governos, mundo afora, do Chile à África do Sul, para tentar diminuir o consumo da commodity.
O açúcar se tornou um dos ingredientes mais rejeitados na atualidade, devido ao acúmulo de calorias e sua associação aos altos índices de obesidade. Nos EUA, várias cidades, como a Filadélfia, implantaram taxas extras sobre refrigerantes e companhias como a PepsiCo se comprometeram a diminuir seu uso. Até mesmo a fabricante de chocolates Hershey aumentou o portfólio de produtos com menos açúcar.
Esses movimentos já se refletem nas estatísticas de consumo. O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) estima que a demanda global cresceu apenas 0,2% na temporada 2018-19, o menor avanço anual desde 2010 e o segundo mais baixo desde 1994.
“Notamos que tem havido uma diminuição no consumo, que já não avança no mesmo ritmo”, diz Jose Orive, diretor-executivo da Organização Internacional do Açúcar. “Podemos atribuir isso à guerra ao açúcar, às sobretaxas e à substituição por outros produtos”.
Queda no consumo per capita
Orive cita a África do Sul como um exemplo do que pode acontecer à demanda. O país, que tem um dos índices mais altos de obesidade na África subsaariana, baixou em 2017 um decreto de sobretaxação de refrigerantes. No primeiro ano em vigor, a lei provocou um declínio “sem precedentes” no consumo. A redução alcançou 5,5% em 2018; para este ano, espera-se retração adicional de 0,7%.
Mundialmente, o consumo per capita de açúcar diminuiu 1,3% em 2018 e ficou na casa de 22,6kg, segundo a associação internacional.
Como outras indústrias, o setor açucareiro passa por um verdadeiro abalo sísmico devido às mudanças nos padrões e percepções de saúde, o que tem levado várias empresas a operar no limite da margem de lucro. A Kraft Heinz vem lutando contra um fraco desempenho e queda no valor de mercado, enquanto a gigante do setor de lácteos Dean Foods decidiu prosseguir por conta própria, após considerar seriamente a opção de ser vendida.
“As redes sociais mudaram a maneira como as pessoas se relacionam com os alimentos”, aponta Pablo Sherwell, chefe de pesquisas de agribusiness do Rabobank na América do Norte. “As redes sociais se tornaram o ponto de referência quando o assunto é dieta e nutrição. Os cientistas e nutricionistas perderam este status”, sublinha.
Nos últimos 12 meses, as preocupações com a demanda derrubaram em 6% os preços futuros do açúcar em Nova York. Além dos impostos, um endurecimento nas regras de rotulagem – como as que estão sendo discutidas em Singapura – somam-se à percepção negativa dos consumidores. Para Jose Orive, da Organização Internacional do Açúcar, a indústria terá de contra-atacar para mostrar o papel do ingrediente numa dieta saudável.
“A indústria precisa melhorar suas iniciativas de comunicação e fortalecer sua mensagem, com base em evidência científica sólida e internacionalmente reconhecida”, sublinha. “Se as pessoas não se manifestarem, haverá cada vez maior erosão no consumo, e isso acabará se refletindo nos preços”.
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