A TAM e a Gol, que, juntas, detêm 82% do mercado aéreo nacional, culpam o governo pela crise que atinge o setor no Brasil. De acordo com gestores das duas empresas, com algumas medidas seria possível evitar o aumento do preço da passagem para o consumidor, que pode acontecer ainda no início de 2013.
De acordo com o diretor de vendas da TAM, Klaus Kühnast, a redução das taxas aeroportuárias e do imposto sobre o combustível são duas medidas simples que o governo poderia adotar. "O governo tem poder de ajudar. A adoção da cobrança da taxa de combustível, que empresas aéreas do mundo inteiro cobram para as flutuações de preço, já ajudaria a equilibrar as contas", diz.
Para o ano que vem a TAM vai reduzir a oferta de assentos em 7%. A frota cairá de 114 para 109 aviões e, em alguns casos, segundo Kühnast, a tarifa pode aumentar. "Não serão todos os trechos que sofrerão aumento. O passageiro de turismo, de lazer, talvez nem sinta os impactos. Mas no geral, o mix dos aumentos deve resultar em algo em torno de 10%", revela.
A Gol foi mais cautelosa ao comentar a crise e o aumento da passagem para o consumidor final. No entanto, o diretor comercial da empresa, Eduardo Bernardes, explica que dificilmente será possível escapar. "A demanda cresceu abaixo do que previa a estimativa inicial. É necessária uma readequação do quadro estrutural e da oferta", conta.
Neste ano, a Gol demitiu mais de 1,2 mil funcionários e deixou de operar mais de 100 rotas. Juntas, TAM e Gol perderam R$ 1,6 bilhão no segundo trimestre deste ano. "Sempre que a empresa é pressionada por problemas cambiais, impostos e falta de demanda é necessário fazer uma adequação para cobrir os custos adicionais e continuar oferecendo um bom produto para o mercado", admite.
Contraponto
Para Tarcísio Gargioni, vice-presidente Comercial e de Marketing da Avianca Brasil, empresa que detém 5% do mercado nacional, o cenário é bom. "São 90 milhões de viagens por ano. Até 2020, serão 140 milhões. Até 2022, o Brasil registrará taxas de crescimento sustentado. Todos os indicadores são positivos, a renda continuará crescendo. A aviação no Brasil está voando num céu azul", brinca. De 2011 para cá, afirma o gestor, a empresa cresceu, adquiriu 13 aviões, e vai fechar o ano com 5,4 milhões de passageiros transportados. "Temos uma média de ocupação próxima de 80%".
Mesmo voando em céu de brigadeiro, na contramão do mercado, Gargioni não poupa críticas ao governo. Para ele, o Brasil peca ao não apostar, rapidamente, em infraestrutura aeroportuária. "Nós queríamos ter mais voos ligando Curitiba, um mercado importantíssimo, a São Paulo. Mas não podemos por falta de slot (espaço) em Congonhas. Nós estamos crescendo onde é possível crescer", afirma.
InternacionalTAP não opera em Curitiba por falta de infraestrutura
A TAP, empresa aérea portuguesa, não opera uma rota direta ligando Curitiba a Lisboa por falta de pista. Ontem, durante uma coletiva de imprensa na 40.ª Feira das Américas da Associação Brasileira das Agências de Viagens (Abav), no Rio de Janeiro, o vice-presidente da empresa estrangeira que mais opera voos no Brasil, Luiz Gama Mór, explicou que seria impossível ter um voo ligando as duas cidades sem a necessidade de parar para abastecer.
De acordo com Mór, em 2011, quando a TAP decidiu lançar o voo entre a capital portuguesa e Porto Alegre (RS), a principal concorrente da capital gaúcha era Curitiba. "Para nós é um mercado preferencial e temos muito interesse por Curitiba. Queremos operar lá, mas, infelizmente, a pista é muito curta, e teríamos um custo muito elevado com combustível", explicou.
O Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais, tem duas pistas, a maior tem 2,2 mil metros de extensão. Para operar o voo seriam necessários, pelo menos, 2,8 mil. "Nós mantivemos, durante muito tempo, um diálogo com o governo estadual. Mas infelizmente, sem pista não dá", revelou.
Para Mór, quando o Afonso Pena tiver infraestrutura, provavelmente será incluído na malha aérea de empresa. "Curitiba é um mercado importante, expressivo e está nos planos."