Cinco, sete, dez horas. Esperar por uma conexão é comum para quem saiu do Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais. De internacional, aliás, ele só tem o nome. Sem voos diretos para os Estados Unidos, Europa e países importantes da América Latina, o único jeito de viajar para outros lugares é esperar, e muito.
Por enquanto, apenas a Gol opera um voo internacional. Todos os dias, às 11h05, parte do Afonso Pena um voo direto para Ezeiza, principal aeroporto de Buenos Aires. Para ir mais longe é preciso pagar até R$ 300 a mais por mais um trecho e pousar em algum dos dez aeroportos nacionais que operam voos internacionais diretos e regulares para Europa e América do Norte.
E a situação não deve mudar tão cedo. Mesmo com o 4.º maior Produto Interno Bruto (PIB) do país, o 7.º aeroporto mais movimentado e com a 8.ª maior região metropolitana do Brasil (3,1 milhões de habitantes), não há planos para fazer dos voos internacionais a partir de Curitiba algo menos traumático.
O motivo é simples: mercado, ou melhor, a falta dele. As grandes empresas aéreas, que nos últimos anos deixaram de operar apenas no eixo Rio-São Paulo, ainda não enxergaram Curitiba e o Paraná como mercados capazes de lotar os 240, 260, 280 lugares disponíveis no Airbus 330 ou um Boeing 767, aeronaves mais usadas para cruzar o Atlântico. Mesmo que a frequência do voo seja semanal. A taxa média de ocupação dos internacionais no Brasil é 79%.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagem (Abav), Antonio Azevedo, é inadimissivel Curitiba não ter ligações diretas com o exterior. "Curitiba é estratégica, tem importância macrorregional. O Afonso Pena poderia ser o hub complementar de São Paulo", protesta. Hub é a base de operação de uma (ou várias) empresas aéreas. É onde a companhia concentra angares, oficinas e outros serviços, e faz escalas para seguir viagem.
Na opinião do presidente do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviarias, José Márcio Monsão Mollo, se fosse interessante para as empresas ter um voo em Curitiba, elas já teriam. "Não tem mercado consumidor. As empresas não vão decolar com o risco de o avião pousar vazio. Se Curitiba tivesse passageiros, o voo estaria operando", diz.
Um exemplo é a TAM. Até 2010, a empresa operava um voo direto entre Curitiba, Assunção e Buenos Aires. Questionada sobre o fim da rota, que durou menos de dois anos, a companhia enviou uma nota: "As rotas são sempre avaliadas conforme a demanda de cada cidade ou região e anunciadas oportunamente".
Região Sul terá ligação com os Estados Unidos
As chances são pequenas, mas Curitiba pode ter um novo voo internacional. Pelo menos é o que diz o diretor de vendas para São Paulo e Região Sul da American Airlines, José Roberto Trinca.
A American Airlines, empresa americana que transporta 44% dos brasileiros que vão diariamente ao Estados Unidos, quer expandir os negócios no Brasil, onde já está presente em sete cidades brasileiras, nas regiões Norte, Nordeste e Sudoeste.
Planos
O próximo passo da companhia será lançar um voo direto entre a Região Sul e algum das cidades-bases de operações da empresa: Miami, Dallas, Los Angeles, Chicago ou Nova York. O último lançado pela companhia faz a rota diária Miami-Manaus-Miami, com apenas 5h10 de duração.
De acordo com Trinca, o voo pode sair de Curitiba ou Porto Alegre. "Temos um levantamento que mostra que 50% dos paranaenses que vão aos Estados Unidos voam de American. E isso é muito positivo, coloca Curitiba numa posição de destaque", conta.
Por enquanto, o único entrave para solicitar a rota para Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) é a aeronave. "Para operar no Sul, nós precisamos de um Boeing 767 e nós não temos o avião disponível", explica.
Sem detalhar o cronograma, Trinca adianta que as operações começam assim que houver avião, mas não confirma nem a origem nem a frequência do voo. "Existe a possibilidade de o voo partir de Porto Alegre ou de Curitiba. Também há a possibilidade de fazer escala em Curitiba, não sabemos. Mas a American tem muito interesse no mercado", afirma.