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Crescimento robusto, uma classe média em processo de formação e abundância de recursos naturais. Esse tripé começa a dar a receita de porque a África vem ganhando a atenção de investidores ao redor do mundo, com potencial de se tornar a nova China. A avaliação é da presidente do Standard Bank no Brasil, Natália Dias.
De origem sul-africana, o Standard é o maior banco do continente africano, presente em 20 países e com representações em diversas partes do globo com o único objetivo de sustentar o fluxo financeiro para o outro lado do Atlântico.
Responsável por uma carteira que vem de crescimento de 25% em 2019 e atualmente beira os US$ 2 bilhões em risco cross boarder Brasil-África, a executiva avalia que, apesar de efeitos negativos, a pandemia da Covid-19 teve como efeito colateral a aceleração de tecnologias, salto que pode favorecer a região, classificada por ela como "a última fronteira do crescimento".
"A África segue a última fronteira de mercado no mundo e isso tende apenas a aumentar. Hoje são 1,3 bilhão de pessoas lá; até 2050 serão 2,5 bilhões de habitantes [segundo estimativa da Organização das Nações Unidas] – será um quarto da população do mundo. Ou seja, toda multinacional de consumo está olhando para lá", pontua. Segundo a consultoria McKinsey, o mercado de consumo na África, que somou US$ 1,4 trilhão em 2015, deve atingir US$ 2,5 trilhões em 2030.
África tem potencial para ser "nova China"
Essa construção de uma população consumidora também ganha fôlego com o surgimento de uma classe média africana, com movimentos de migração do campo para a cidade. A dinâmica é muito similar àquela ocorrida na China nos últimos trinta anos.
Nesse ponto, Natália Dias analisa, entretanto, que o potencial da África é ainda maior: tem mais recursos naturais, acesso à terra e é mais dependente de importações. E, por isso, é um prato cheio para o Brasil.
"O Brasil sempre foi uma economia muito fechada. Nossas exportações frente ao PIB são muito pequenas em comparação com outros mercados emergentes. A África tem muito potencial e o Brasil tem de fato um soft power [capacidade de influência] muito forte no continente", completa.
A oportunidade mais clara para o país em terras africanas, na avaliação de Natália Dias, é o agronegócio. "O Brasil é o país mais bem posicionado para desenvolver o segmento por lá. É a gente que domina essa tecnologia, além do que, a savana é muito parecida com o cerrado brasileiro".
"Tempos atrás se pensava em não incentivar um eventual concorrente. Hoje já se tem uma visão mais moderna, de que se você não desenvolver esse mercado alguém vai fazê-lo", sentencia a executiva do Standard Bank, ao pontuar que o país pode ficar para trás na busca por um mercado que já foi notado e será disputado.
Outros segmentos também avançam. Os países do continente são destino de um deslocamento de cadeias produtivas da Ásia, movimento incentivado inclusive pelo acordo de livre comércio africano, assinado em 2019, pavimentando o caminho para uma integração sem barreiras que favoreça os investimentos.
Interessados no terreno não devem faltar. Para o próximo ano, o foco do Standard Bank no Brasil é atravessas as nossas fronteiras e estabelecer carteiras em outros países latinos. "Depois do Brasil, talvez o segundo maior parceiro comercial da África seja a Argentina em agricultura e Chile e Colômbia na parte de mineração e metais. Ainda não tivemos chance de desenvolver tanto, mas é um plano para 2021", revela.
Continente foi parcialmente protegido de impactos maiores na pandemia
A executiva ainda analisou os efeitos da pandemia do novo coronavírus no continente, que, segundo ela, foi parcialmente protegido de impactos maiores.
"Uma tendência que vinha acontecendo nos anos mais recentes foi um crescimento da África maior do que o crescimento mundial. Foi a região que mais cresceu, 4,4%, entre 2000 e 2019; no período, o mundo cresceu 2,9%. Sem dúvida a Covid-19 vai ter impacto negativo nessa trajetória de crescimento tão robusto. A nossa previsão antes era de que o continente cresceria 3% [em 2020]; revisamos para -4%. Ainda assim é uma queda menor do que aquela que é esperada globalmente", pontua. A estimativa mais recente do Fundo Monetário Internacional (FMI) é de um tombo global de 4,4%.
Na avaliação de Natália Dias, a chance de uma retração maior foi amortecida pela diversidade de economias do continente, grosso modo dividido entre os países ricos em petróleo da África ocidental, ricos em minérios da África Central e as economias mais diversificadas da porção oriental do continente. "Do ponto de vista econômico, os produtores de petróleo devem cair 6%, mineradores, 4%, mas aqueles virados para a Ásia ainda devem crescer. Tem esse pool de países mais diversificados, com impacto menor", completa.
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