O que é
O grau de investimento é uma condição atribuída por agências internacionais de classificação de risco a papéis, empresas ou países para definir que se trata de um investimento seguro, ou seja, com baixo risco de calote. As agências são contratadas para fazer essa análise, ou seja, nada mais é do que uma opinião, embora com grande influência no mercado.
A deterioração das contas públicas, a perspectiva de baixo crescimento e a piora no déficit nas transações com o exterior levaram a agência de classificação de risco Standard & Poors (S&P) a reduzir a nota de avaliação do Brasil. A nota caiu de "BBB" para "BBB-" (a mesma da Espanha e das Filipinas), com perspectiva neutra, ou seja, a agência não pretende voltar a alterar a avaliação ao menos até 2015.
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As notas de crédito atribuídas pelas agências têm impacto sobre o custo da dívida de empresas e países. Quanto maior a classificação, menor tende a ser o desembolso com os juros dos financiamentos, e vice-versa. A decisão também tende a ter impacto negativo no mercado financeiro, principalmente na cotação do dólar.
"Os sinais ainda não são claros quanto às políticas que serão utilizadas para estabilizar a situação fiscal antes das eleições de outubro. Além disso, em nossa opinião, também não são claras as perspectivas de ajustes após as eleições. Apesar dos recentes esforços de reprogramação do Orçamento, que cortam alguns gastos do orçamento de 2014 aprovado pelo Congresso, será difícil atingir a meta de superávit primário fiscal de 1,9% sem que se recorra, em nossa visão, a ajustes pontuais", disse a agência em comunicado.
A expectativa de um possível rebaixamento se arrastava desde junho do ano passado, quando a agência colocou a nota brasileira em perspectiva negativa. Apesar da queda, o Brasil ainda mantém o chamado grau do investimento categoria em que o mercado é considerado seguro para investir. Muitos fundos no exterior, por exemplo, só põem dinheiro em países detentores do status de bom pagador.
Se o país cair mais um degrau, no entanto, será reduzido à categoria "junk" (grau especulativo), situação da qual saiu em 30 de abril de 2008, quando a S&P elevou o Brasil ao grau de investimento a agência foi a primeira a fazê-lo. Naquele ano, em meio à euforia com a mudança de categoria da nota brasileira, o dólar despencou e chegou a ser cotado abaixo de R$ 1,60.
Sem surpresa
"Foi menos mal que o Brasil ainda não perdeu o grau de investimento, mas fica sinalização forte que isso pode ocorrer caso não sejam tomadas medidas corretivas pelo governo, principalmente nas questões fiscal e de crescimento", avalia o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola.
O diretor de pesquisas para América Latina do banco Goldman Sachs, Alberto Ramos, afirmou que o rebaixamento do Brasil "é um sinal de alerta para as autoridades não desviarem mais a gestão da política econômica". Ele se referiu especialmente à administração das contas públicas.
Piora na avaliação afeta ingresso de recursos no país
De olho na alta dos juros, os investidores estrangeiros aumentaram a compra de títulos públicos do país, ajudando a mitigar o ritmo de crescimento do déficit externo em fevereiro. Esse movimento, agora, tende a perder força com o rebaixamento da nota de crédito do Brasil. Segundo especialistas, a piora no rating da S&P deve afetar o movimento de ingresso de recursos no Brasil. O mercado, no entanto, não fala em fuga de capitais, mas em desaceleração de ingressos.
Dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC) mostram que, no primeiro bimestre do ano passado, os estrangeiros compraram US$ 304 milhões em títulos de renda fixa no país. Nos dois primeiros meses deste ano, o valor cresceu para US$ 5,9 bilhões sendo US$ 2,6 bilhões somente em fevereiro. Com isso, o rombo do país com o exterior fechou o mês passado em US$ 19 bilhões. Segundo o BC, o déficit deve atingir US$ 80 bilhões no final deste ano, ante uma projeção anterior de US$ 78 bilhões. Em 2013, o déficit foi de US$ 81,4 bilhões.
No acumulado de 12 meses até fevereiro, o buraco ficou em 3,69% do Produto Interno Bruto (PIB), o maior desde fevereiro de 2002, quando atingiu 3,94%.
Para especialistas, o aumento dos juros e a retirada total do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), em junho de 2013, foram decisivos para o maior ingresso de capital estrangeiro, que ajudou a frear o crescimento do déficit externo. Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC, defende que esses não foram os únicos motivos. "Não teríamos esse nível de ingressos se não houvesse confiança no país".
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