A analista de risco Lisa Schineller redigiu na semana passada um relatório em que explicava as razões para a tranqüilidade do mercado financeiro. Segundo ela, as denúncias não mexem com os fundamentos da economia. Leia a seguir uma entrevista com a analista.
Gazeta do Povo: Quais são os fatores que têm isolado a economia da crise? Lisa Schineller: No ano passado, o superávit comercial foi de US$ 33 bilhões e ele caminha no mesmo ritmo neste ano. Da perspectiva do rating, esse é um fator-chave para melhorar os indicadores de dívida externa. Outra coisa é que essa performance advém de um aumento das exportações e não parece cíclica. Ao mesmo tempo, os setores público e privado reduziram seus débitos externos e o Banco Central está acumulando reservas. No lado fiscal, o país tem mantido um superávit primário e também melhorou a estrutura da dívida interna. O principal problema para o Brasil, é a relação dívida/PIB, que hoje está acima de 50%.
O Congresso deve travar a votação de projetos. Como isso influencia o mercado? Quando o rating do Brasil foi elevado, em setembro de 2004, tínhamos a percepção de que ciclo político recomeçava. Logo em seguida vieram as eleições municipais, nas quais o PSDB saiu mais forte. Depois, a administração da coalizão do governo passou a ser mais difícil. Por essas razões, já não esperávamos a aprovação de projetos como a autonomia do Banco Central ou novas discussões sobre a reforma da Previdência.
O governo está mais fraco e no ano que vem há eleições. Pode haver um movimento de aversão ao risco? Os pontos mais importantes para entender a reação do mercado serão a política que eles conhecem do governo atual e aquelas que serão apresentadas por outros partidos com potencial de virar governo. É preciso destacar também as instituições fortes do Brasil e a valorização crescente da Lei de Responsabilidade Fiscal. Isso não significa que não haverá turbulência.