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Cascavel – A Avenida Brasil, principal ponto comercial de Cascavel, passou a ser menos visitada por produtores rurais nos últimos meses. Eles ficaram mais comedidos nos gastos desde que o preço da soja despencou. Em um giro pelas quadras que concentram lojas de móveis, eletrodomésticos, roupas e máquinas agrícolas, o que mais se vê são vendedores nas portas, esperando clientes. "Os agricultores são uma parte importante da clientela e eles sumiram", diz Marlene Zorzi, gerente de uma loja de móveis na Brasil.

Segundo Marlene, as vendas caíram cerca de 30% desde abril. Além de menos negócios, a loja tem registrado inadimplência maior. "Acho que isso indica um Natal pior do que no ano passado", avalia. Com essa tendência de mercado, Marlene não deve reforçar o time de vendedores como normalmente faz no fim de ano.

Em uma revendedora de máquinas agrícolas, o efeito da crise no campo foi ainda mais amplo. A venda de tratores caiu 35%. "Em alguns meses do ano passado chegamos à marca de 60 unidades vendidas. Neste ano não passamos de 35 máquinas por mês", afirma o vendedor José Édison Bento. Ele coordena a área de consórcios da loja e diz que os agricultores têm procurado mais esta forma de pagamento de longo prazo. "É uma alternativa para quem precisa renovar o maquinário mas não quer gastar muito agora."

A queda nas vendas de máquinas indica uma tendência para a próxima safra: o menor investimento em tecnologia. "Ao invés de comprar sementes certificadas, mais produtores estão usando grãos guardados da última safra, o que compromete a produtividade", conta o presidente do Sindicato Rural de Cascavel, Nélson Menegatti. Outras formas de economia são o uso de uma quantidade menor de adubo e a operação de equipamentos com vida útil vencida.

A origem da crise no setor de grãos está no preço dos produtos em reais. A soja chegou a ser vendida entre abril e maio do ano passado por cerca de R$ 60. Hoje o valor está abaixo de R$ 30. Em setembro, os produtores colheram as culturas de inverno e tiveram uma nova decepção com o trigo. O preço mínimo estipulado pelo governo federal é de R$ 24 por saca, mas o mercado está pagando R$ 16 ou R$ 17.

O agricultor e engenheiro agrônomo Agassiz Linhares Neto registrou uma quebra de 40% na última safra de soja. Ele planta grãos selecionados para serem usados como sementes no ano seguinte e diz que, mesmo tendo um produto com valor superior ao comum, teve prejuízo. Uma parcela de 60% do financiamento que fez para custear a lavoura foi renegociada no banco. Mesmo assim, Linhares diz que prefere manter o gasto com adubação para não perder produtividade. "Muitas pessoas na região estão falando em reduzir um pouco o adubo para economizar. Acho que não vale a pena", comenta.

A renovação do maquinário, porém, foi adiado. A última compra de colheitadeiras e tratores que Linhares fez foi em 1998. Parte das máquinas foi fabricada em 1994 e deveria ter sido aposentada. "Optei por reformar esses equipamentos porque meu poder de compra caiu bastante. Em 1998, uma colheitadeira custava 4 mil sacas de soja. Hoje não sai por menos de 14 mil sacas", explica. Segundo o agricultor, outra forma de cortar custos nas propriedades da região tem sido a adoção da soja geneticamente modificada. Essa variedade exige a aplicação de um volume menor de herbicidas. "A economia é de no mínimo R$ 300 por alqueire", calcula.

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