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Custo de vida

Água, luz, telefone e gasolina serão vilões da inflação de 2008

O Lamborghini de Feldmann e Bonifácio foi mais rápido durante todo o fim de semana e ainda contou com um pouco de sorte | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
O Lamborghini de Feldmann e Bonifácio foi mais rápido durante todo o fim de semana e ainda contou com um pouco de sorte (Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo)

São Paulo – O papel de mocinho na "novela inflação", desempenhado este ano pelos preços administrados, está com os dias contados, na avaliação de economistas do mercado financeiro A possibilidade desses preços, como água, luz, telefone e gasolina, voltarem a ser os vilões já havia sido aventada por alguns economistas nos últimos meses, mas tem ganho mais força recentemente.

Na semana passada, o diretor de Estudos Especiais do Banco Central, Mário Mesquita, falou sobre o assunto durante a reunião trimestral com analistas, em São Paulo. Segundo o relato de um desses analistas, Mesquita teria salientado que "a inflação deste ano foi ‘anormal’ porque os preços administrados seguiram muito baixos". Segundo o dirigente do BC, se não fossem os administrados, a inflação deste ano estaria muito próxima da meta, de 4,5%.

"Ocorreram fatores excepcionais este ano que não devem se repetir em 2008", afirma o economista da LCA Consultores Raphael Castro. Ele cita como exemplo o reajuste da tarifa de energia elétrica em algumas capitais, como Curitiba, e principalmente em São Paulo, cujo impacto é maior sobre os índices. "É provável até termos deflação neste setor em 2007", previu, acrescentando que projeta uma alta de 2,50% para os administrados este ano, e uma taxa entre 3,90% a 4,00% para 2008.

Os combustíveis são outro ponto positivo deste ano, segundo o consultor da LCA. Ainda que o álcool anidro não seja um produto cujo preço é administrado pelo governo, ele contribuiu para a redução de preço total da gasolina. Este fenômeno ainda poderá ser visto no ano que vem, embora de forma menos intensa.

A combinação de fatores como estes em 2007, que auxiliam a composição de uma inflação menor, também é citada pelo economista da equipe de América Latina do Morgan Stanley, Marcelo Carvalho. "É correto dizer que essa ajuda não será tão intensa em 2008", afirma. Para ele, entre os administrados, os planos de saúde devem continuar como o item de maior elevação. "Esse serviço tem peso de 3,3% no total da inflação. Em 2007, deve ser o de maior reajuste, e isso tende a continuar em 2008", analisa.

Carvalho lembra, no entanto, que, em 2008, o transporte público tende a contribuir para uma inflação menor. "Historicamente, não há reajustes em anos eleitorais. Se a história servir como guia, não haverá também em 2008", frisa, referindo-se às eleições municipais.

De todo modo, a expectativa é de uma inflação dos preços administrados maior em 2008. Uma boa idéia dessa diferença das expectativas está no relatório de mercado (Focus), divulgado na segunda-feira passada pelo Banco Central. Para este ano, a mediana das estimativas para a alta desses preços é de 2,50%; para o próximo, de 3,50%.

As projeções do Banco Central são ainda mais pessimistas do que as feitas pelos analistas do mercado. No relatório trimestral sobre inflação, de junho, o BC informou que projeta alta de 3,2% para os administrados em 2007. No mesmo documento, o BC estima que esses preços devem subir 4,5% no próximo ano.

O BC leva em conta as séries históricas, enquanto o mercado costuma optar pelas previsões abertas, com base nas estimativas para cada uma das variáveis que compõem os preços administrados, como, por exemplo tarifas de energia elétrica, de telefonia fixa e de combustíveis. Em resumo: as estimativas do BC carregam mais inércia.

E ela, a inércia, pode ter mesmo um impacto maior em 2008 por conta dos resultados apurados neste ano dos IGPs – estes índices serão utilizados para corrigir as tarifas em 2008. Uma boa idéia deste impacto pode ser medida quando se leva em conta que o IGP-M, por exemplo, foi de 0,87% no acumulado em 12 meses até junho de 2006 e, agora, em período idêntico de 2007, já soma 3,90%.

Ainda que a tendência apontada pelos economistas consultados seja de inflação maior dos administrados no próximo ano, todos são enfáticos ao afirmar que dificilmente a meta de 2008 de 4,50% será superada.

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