Histórico
Planos sucessivos e parecidos
O plano que a Irlanda se dispõe a adotar, com cortes de gastos que atingem em torno de 10% do Produto Interno Bruto (PIB), soma-se a uma série de medidas de austeridade que o ex-"tigre celta" se viu obrigado a anunciar, enquanto afundava na crise. Após presumir um crescimento de 6% do PIB em 2007, a Irlanda foi o primeiro país europeu a entrar em recessão, no segundo trimestre de 2008. A resposta foi rápida. Em julho daquele ano, Dublin lançou seu primeiro pacote de contingenciamento, com a redução de 3% dos vencimentos do pessoal (excluindo a educação e saúde), e cortando pela metade o orçamento das agências de representação e consultoria.
No entanto, os cerca de 50 bilhões de euros que o Estado teve que usar no resgate dos bancos irlandeses, muito atingidos pelo colapso das hipotecas subprime dos EUA, dispararam o déficit público a 32% do PIB neste ano. O resultado: novas medidas de austeridade, ou seja, um aumento de impostos de 2 bilhões de euros em 2008, economia de 3,5 bilhões de euros no setor público em janeiro de 2009, e depois 4 bilhões suplementares em abril e julho do ano passado. Segundo estimativas oficiais, esses cortes vão resultar na remoção de 120 mil empregos públicos em 2009 e 2010, de um total de 320 mil funcionários.
Em dezembro de 2009, os salários dos empregados foram reduzidos novamente, entre 5% e 15%. Ante a amplitude da crise, com um PIB que se contraiu cerca de 8% em 2009, o governo decidiu ir ainda mais longe. O orçamento de 2011, que prevê economizar 6 bilhões de euros, afeta os fudamentos do Estado social, reduzindo em cerca de 5% os subsídios familiares e de desemprego.
O novo plano, que será anunciado amanhã ou depois, intensificará esse movimento de austeridade, com uma redução equivalente dos mesmos subsídios. O orçamento quadrienal, que prevê uma economia total de 15 bilhões de euros até 2014, ou seja, quase 10% do PIB irlandês, afetará também o salário mínimo, um dos mais altos da Europa (8,65 euros por hora). Segundo a imprensa local, este mínimo será reduzido em um euro.
Depois de um impasse que durou a semana passada quase inteira, o governo da Irlanda pediu ontem ajuda financeira à União Europeia e ao Fundo Monetário Internacional. Em conferência telefônica, ministros das Finanças dos países da UE mostraram-se favoráveis ao pedido. Eles acreditam que o auxílio trará estabilidade econômica à zona do euro. Estima-se que a ajuda ficará entre 80 bilhões e 90 bilhões de euros. As partes ainda negociam os termos do acordo, que deve ser concretizado nas próximas semanas.
Se confirmado, o valor ainda será inferior ao que foi disponibilizado neste ano para socorrer as finanças da Grécia (110 bilhões de euros). Com uma população de 4,5 milhões, uma ajuda de 90 bilhões de euros equivaleria a 20 mil euros para cada irlandês.
O anúncio encerrou uma longa especulação sobre a negociação, que foi pressionada devido ao aumento dos problemas no setor bancário irlandês. Inicialmente, o país negava a necessidade do pacote, por entender que poderia significar uma perda de soberania em suas questões econômicas.
Uma questão que ainda não foi definida é quais condições serão exigidas em troca da ajuda. O primeiro-ministro irlandês, Brian Cowen, disse que mais cortes de gastos e aumento de impostos deverão ocorrer. "Os contribuintes serão bastante penalizados e muitas pessoas perderão seus empregos, relatou Michael Noonan, chefe financeiro do Fine Gael, principal partido de oposição da Irlanda.
Outra preocupação é que o pacote posso ajudar a mitigar ainda mais os depósitos bancários no país. De acordo com os bancos centrais da Europa e da Irlanda, seis bancos irlandeses têm aumentado dependência de financiamentos externos para compensar a queda no volume de depósitos, gerada pela crise de confiança no sistema financeiro. A solvência das instituições deve ser o assunto mais discutido para definir os termos da ajuda.
Cowen observou que seria desejável que depósitos fossem efetuados em um fundo de contingência. No entanto, a UE e o FMI podem optar por uma solução mais radical, que envolveria fusões e vendas dos bancos.
Déficit
A Irlanda enfrenta neste ano um déficit público de 32% do PIB (Produto Interno Bruto), devido ao custo das ajudas governamentais ao setor bancário, muito afetado pela crise financeira internacional. Para reduzir o deficit à meta europeia, de menos de 3% até 2014, o governo prevê para os próximos quatro anos uma economia de 15 bilhões. Mas, como o governo tem maioria parlamentar frágil, analistas temem um veto.
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