Al Gore pediu aos “campuseiros” que se mantenham mobilizados contra tentativas de controle da internet| Foto: Epitácio Pessoa/AE

Infraestrutura

Falta wi-fi, tomada e até luz

Com 6,8 mil pessoas esperadas para sua quarta edição, a Campus Party começou anteontem, em São Paulo, marcada por vários participantes frustrados com problemas na infraestrutura do evento.

Filas excessivas, problemas na distribuição das barracas e até falta de tomadas e de internet sem fio – questões cruciais para quem escolheu a feira para ficar conectado 24 horas por dia – irritaram muitos "campuseiros".

Laércio Moura, 28 anos, reclama da falta de tomadas na área das palestras, o que dificulta carregar os notebooks, e da falta de internet sem fio. O argumento da organização do evento é de que nunca houve internet sem fio na feira, mas essa explicação não satisfaz os participantes. "Como uma feira de tecnologia não tem internet sem fio eu não sei", afirma. O que existe na área de palestras são redes sem fio individuais, muitas vezes configuradas pelos próprios campuseiros em seus dispositivos, além de redes de patrocinadores protegidas por senhas, às quais a maioria dos campuseiros não tem acesso.

Em pelo menos duas ocasiões ontem também faltou luz – de madrugada, das 2 às 5 horas, e à tarde, das 17h30 às 19 horas. No primeiro caso, houve um acidente envolvendo um automóvel e um poste ao lado do pavilhão do evento. No segundo, a culpa teria sido da forte chuva que caiu em São Paulo no fim da tarde de ontem.

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"Defendam a internet. Ela não pode ser controlada por governos ou grandes corporações. A internet é do povo." Essa foi uma das frases do ex-vice-presidente dos EUA Al Gore em sua breve apresentação durante o segundo dia da Campus Party, evento de tecnologia e entretenimento que ocorre até domingo em São Paulo.

Durante seu discurso, Gore afirmou que a internet traz a democracria à vida real e que a neutralidade da rede deve continuar. "A forma como se usam as ferramentas tecnológicas é absolutamente importante. Sigam seus corações e mantenham os sonhos das pessoas vivos, não deixem que a rede seja controlada", afirmou. A discussão vem em um momento em que a neutralidade da internet é questionada, inclusive por iniciativas de empresas globais sobre a possibilidade de priorizar conteúdo de acordo com a vontade do usuário no momento.

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O tema também foi abordado por Tim Berners-Lee, um dos criadores da rede, que participou do painel. Para ele, o próximo passo na evolução da internet é o aprimoramento dos sistemas democráticos. Entusiasta da liberação de dados de governos e criador do site Data.gov.uk (em parceria com o governo britânico), Berners-Lee acredita que a transparência através dos meios digitais pode ajudar a melhorar a governança dos países abertos. "Os dados produzidos pelo governo, pagos por impostos, devem ser abertos. Isso possibilita que as pessoas peguem os dados brutos e co­­nectem os pontos de uma maneira nova, criando novos sentidos para entendermos melhor como o mundo funciona. Tudo tende a funcionar melhor dessa maneira", argumenta.

A empolgação de ambos cessou, no entanto, quando o mediador do debate, o editor da revista Wired inglesa, Ben Hammersley, fez uma pergunta um pouco mais difícil: o WikiLeaks também se insere nesse contexto de democratização e transparência? Tanto Go­­re quanto Berners-Lee deram voltas e voltas argumentativas, mas não responderam à pergunta. Da­­dos privados são outra história.