O dia em que os veículos autônomos serão a regra nas ruas ainda está longe. Carros que dão os primeiros passos na tecnologia, como o Tesla Model S, levantam questões sobre sua confiabilidade e segurança. Em meio a esse debate, autoridades alemãs estão propondo que todos os veículos autônomos venham com uma “caixa preta”, como as encontradas em aviões.
A caixa captaria dados de momentos anteriores a uma colisão para que investigadores possam determinar o que deu errado. Embora algumas montadoras e seguradoras usem dados similares para tomar decisões, a Alemanha pode em breve se tornar o primeiro mercado em que a caixa preta será uma exigência.
Esta não é a única medida proposta pelo país que pode influenciar o futuro da indústria automotiva. Analistas dizem que a Alemanha tem tudo para liderar a indústria neste novo capítulo – levando em conta sua reputação de ter uma engenharia de ponta e o histórico em automação, energia limpa e alta tecnologia.
Os avanços são impulsionados pela competição crescente com os Estados Unidos e o Japão, explica Joe Lu, analista da consultoria Kelley Blue Book. “Quanto mais cedo você entrar em um mercado e quanto mais perto você estiver de ser o primeiro, mais você será associado a uma nova tecnologia.”
Empresas que seguem esse preceito de forma bem-sucedida ficam em uma posição privilegiada para inovar mais do que a concorrência, especialmente em um momento em que os governos atuam para reduzir emissões, forçando a adaptação da indústria.
A arrancada da Alemanha conta com o apoio da chanceler Angela Merkel, que em abril defendeu um relaxamento nas leis para permitir o teste de carros autônomos em locais públicos. No mesmo mês, o governo alemão estabeleceu incentivos financeiros para os consumidores comprarem carros 100% elétricos ou híbridos. E alguns membros do governo foram ainda mais longe, defendendo o fim das vendas de carros movidos a combustíveis fósseis até 2030.
Várias montadoras alemãs, incentivadas pela pressão feita por rivais como Tesla, GM e Ford, criaram metas ambiciosas. A BMW promete entregar um carro completamente autônomo nos próximos cinco anos. A empresa também anunciou que vai vender as baterias que equipam seu modelo i3 em pacotes para residências, no mesmo modelo da Powerwall da Tesla. Ao mesmo tempo, a Daimler, dona da Mercedes-Benz, está produzindo baterias para carros e residências e anunciou planos de investir US$ 543 milhões em uma fábrica.
As montadoras alemãs “realmente não estavam fazendo o suficiente nessa área, e agora elas estão tentando alcançar os concorrentes”, diz Al Bedwell, diretor global de motores da LCM Automotive, empresa de pesquisas.
Nenhuma montadora alemã parece estar fazendo tanto quanto a Volkswagen para se reposicionar. Depois de se queimar em um escândalo sobre a emissão de seus carros, a empresa anunciou no mês passado planos de lançar mais de 30 modelos elétricos até 2025, ao mesmo tempo em que vai aumentar seu investimento em baterias, tecnologias digitais e veículos autônomos.
Embora os analistas esperem que os carros a gasolina e diesel continuarão com a maior parte das vendas no futuro próximo, a estratégia da Volks reflete a aposta de que o futuro do setor está nessas tecnologias emergentes. “Houve uma clara mudança de ênfase nas mensagens que a empresa está passando após a crise. Acho que muita pesquisa sobre carros elétricos já estava sendo feita antes, mas estamos ouvindo mais sobre isso agora”, afirma Bedwell.
Volkswagen, Daimler e BMW têm 15% do mercado global de veículos leves, segundo a LCM Automotive, uma posição que as montadoras querem manter, ou até aumentar. E se a história é um bom indicador, a liderança alemã em engenharia e sua força industrial podem mais uma vez funcionar em favor do setor automotivo.
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