Momentos antes de iniciar sua palestra para empresários locais, há poucos dias, o diretor executivo da consultoria Ernst & Young, Paulo Wyss (foto), perguntou aos presentes se mais algum grande banco de investimento havia quebrado nas últimas horas para que ele pudesse atualizar sua apresentação, elaborada na noite anterior. Para quem acompanha os desdobramentos da crise financeira internacional, a ironia não pareceu exagerada. Com MBA em Finanças pela FGV-SP e especialização em Corporate Restructuring pela Harvard Business School, Wyss atua como consultor na indústria bancária e de seguros desde 1989. Ele conversou com o repórter Alexandre Nascimento sobre os impactos da crise e suas possíveis conseqüências para o mercado brasileiro.
Há quem diga que a crise atual tem o simbolismo da queda do Muro de Berlim. A crise representa o fim da era do livre mercado?
Não significa o fim do livre mercado, mas acho que este evento representa a queda da teoria de que o mercado totalmente livre é o melhor modelo. Assim como o futebol sem regras é uma "pelada", o mercado sem regras não funciona direito. Os mercados perceberam que necessitam de regras claras para que funcionem como devem funcionar.
Que impactos a crise terá na economia real brasileira?
Dá para antever a diminuição do ritmo da atividade econômica no Brasil. As empresas com menor acesso ao crédito vão frear os planos de expansão, contribuindo para a desaceleração. Isso deve impactar a atividade das indústrias que vinham contratando e ampliando as linhas de produção. Também deve dificultar a gestão fiscal do governo. A queda da atividade econômica diminui a arrecadação e as despesas do governo já estão definidas no orçamento. Acredito que o PIB brasileiro de 2009 será a metade do crescimento previsto para 2008 [5,18%].
Estamos livres da recessão? Vamos passar pela crise apenas com queda no PIB?
A queda do PIB nunca é boa, mas conseguir passar pela crise com um crescimento mais modesto é muito bom.
Com as aquisições dos bancos falidos, os mercados emergentes assumem um papel mais preponderante na economia mundial, diluindo o poder norte-americano?
Acho que a economia americana continuará dominando o planeta por mais alguns anos, porque os EUA continuarão sendo o maior mercado. Já o Brasil, que tem menos de 2% do comércio mundial, só vai ter voz ativa e influência política se os emergentes aumentarem sua participação no comércio mundial, o que ainda não se vê.