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Aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na esquerda veem como "chantagem" e "extorsão" a decisão de bancos privados e públicos de suspender a concessão de empréstimos consignados a beneficiários do INSS. Em manifestações públicas, cobram até a exoneração de responsáveis pela suspensão, no caso da Caixa e do Banco do Brasil.
Em paralelo, centrais sindicais convocam atos pela redução dos juros e contra o que classificam de "abusos dos bancos". Elas cobram o governo a usar Caixa e BB para garantir o acesso dos aposentados ao consignado.
Acompanhando o movimento de bancos privados, os dois bancos estatais decidiram na quinta-feira (16) suspender novas operações desse tipo de crédito. A suspensão ocorreu três dias após a decisão do Conselho Nacional da Previdência Social (CNPS) de baixar a taxa máxima de juros desse tipo de empréstimo, atendendo a pedido do ministro da Previdência, Carlos Lupi, que também é presidente nacional do PDT.
Nesta sexta (17), Lupi reproduziu uma nota publicada por oito centrais sindicais. "É preciso que o governo atue de forma firme e efetiva para garantir os direitos da classe trabalhadora, e não ceda aos interesses dos bancos e do mercado financeiro", diz trecho publicado pelo ministro.
Na quinta, Lupi compartilhou página do Banco Central que mostra as taxas cobradas no consignado do INSS até o início deste mês. De 39 bancos listados, quatro tinham juros inferiores ao novo teto de 1,70% ao mês estabelecido no início da semana. A Caixa cobrava 1,86% ao mês e o Banco do Brasil, 1,96%.
O presidente do PDT-SP e da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), Antonio Neto, cobrou a exoneração de quem "deu a ordem" da suspensão do consignado. Caixa e Banco do Brasil são presididos, respectivamente, por Rita Serrano e Tarciana Medeiros, funcionárias de carreira dos bancos.
Para Antonio Neto, os bancos públicos "fazem coro com cartel dos bancos para chantagear e extorquir os aposentados". "O presidente Lula tem a caneta na mão para corrigir o problema e exonerar quem deu a ordem para a Caixa e o Banco do Brasil chantagearem o povo brasileiro. Achacadores não passarão!", disse.
Ele fez cobrança pública a Rita Serrano, presidente da Caixa, lembrando que ela foi dirigente sindical e perguntando se a ordem de suspender o consignado partiu do comando do banco ou do Ministério da Fazenda.
Também na rede social, o deputado estadual José Américo (PT-SP) afirmou que "a Caixa e o BB desafiaram o governo". "Um absurdo: ou a Caixa e o BB recuam ou o governo não terá mais autoridade para criticar juros altos", disse.
O ex-governador paranaense Roberto Requião (PT) pediu a Lula que "prestigie o ministro Carlos Lupi": "Ele está absolutamente certo reduzindo juros do empréstimo consignado".
Na oposição, o deputado federal Carlos Jordi (PL-RJ) afirmou que a redução dos juros do consignado foi "medida populista" do "desgoverno Lula" que tornou inviáveis os empréstimos. "Governo tenta lacrar e 'acaba' com crédito consignado do INSS", diz legenda de vídeo compartilhado pelo parlamentar.
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Em nota divulgada na quinta-feira, quando bancos começaram a suspender o consignado, oito centrais sindicais cobraram do governo "a utilização do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal para garantir as linhas de crédito para aposentados e pensionistas que precisarem com as novas taxas de vigência". "É necessário que o Estado assuma sua responsabilidade social e garanta o acesso", afirmaram.Em vídeo, Sergio Nobre, presidente da CUT, convocou manifestações para a próxima terça-feira (21), nas cidades que têm sede do Banco Central, para "exigir a queda da taxa de juros, a democratização do Carf [Conselho Administrativo de Recursos Fiscais] e do Conselho Monetário Nacional".O sindicalista não faz referência à questão do consignado, mas o vídeo foi publicado depois das primeiras notícias de suspensão desses empréstimos. No fim do vídeo, Nobre cobra a saída do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que tem mandato até o fim de 2024. O BC tem autonomia formal garantida por lei desde 2021, o que significa que Lula não pode trocar seu presidente a qualquer momento.