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Alimentos puxam inflação

Forte recuo dos preços dos combustíveis evitou uma alta mais forte da inflação geral |
Forte recuo dos preços dos combustíveis evitou uma alta mais forte da inflação geral (Foto: )

Preços de alimentos e bebidas subiram com força pelo terceiro mês seguido e fecharam o primeiro trimestre com a maior alta desde 2007 na Grande Curitiba. A inflação desse grupo de produtos – de 3,16% em março e 5,32% desde o início do ano – também foi a mais forte entre as nove regiões metropolitanas pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e, com isso, superou com folga a média nacional. Em todo o país, alimentos e bebidas ficaram 1,55% mais caros em março e 3,69% no acumulado do ano, representando a maior fonte de pressão sobre o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serve de referência para as metas de inflação perseguidas pelo Banco Central.A alta de alimentos in natura foi generalizada e, na maioria dos casos, provocada por excesso de chuva e calor nas regiões produtoras. O clima adverso explica as altas do repolho, da alface, da batata-inglesa e do recordista tomate, por exemplo. "O tomate de boa qualidade hoje varia de R$ 5 a R$ 5,50 o quilo, enquanto que no começo do ano não passava de R$ 3", conta Manoel Batista Lima, dono de uma banca no Mercado Municipal de Curitiba. Mas a alta não inibiu a procura pelo produto, que, segundo Lima, continua "muito boa".

No caso de leite e derivados, que na região metropolitana de Curitiba (RMC) subiram quase 13% no ano, há mais de uma explicação. Conforme o IBGE, o reajuste se deve ao aumento da demanda; para Gino Schlesinger, chefe do núcleo de pesquisas periódicas do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), é normal que o leite suba entre março e meados do ano. Reajuste ainda mais forte sofreu o açúcar refinado, que, em meio à entressafra de cana, ficou 30% mais caro de janeiro a março.Bomba desarmada

Sob toda essa pressão, a inflação geral da RMC fechou o mês passado em 0,58% e o primeiro trimestre em 1,78%. Nas duas medições, no entanto, os índices curitibanos ficaram abaixo dos observados na maioria das regiões, ocupando o sétimo lugar do ranking de inflação. A explicação para isso está nos combustíveis.

Após dois meses de forte alta, os preços do álcool e da gasolina nas bombas da Grande Curitiba recuaram 6,17% em março e passaram a registrar deflação de 4,58% no ano. Sob influência dos combustíveis, das passagens aéreas e dos automóveis novos, o grupo de transportes fechou o mês de março com deflação de 2,25% na região de Curitiba, a mais intensa do país. Comparado a outras regiões, o barateamento desse grupo desde o início do ano, de 1,67%, só perde para o observado em Fortaleza (-1,85%).

Incertezas

Se por um lado a expectativa é de que os combustíveis oscilem menos a partir de agora, ainda há muita incerteza em relação aos alimentos. "É difícil fazer um prognóstico. O que os produtores comentam é que, se o tempo firmar, mas sem fazer sol de rachar nem frio muito intenso, é possível que em 40 ou 50 dias os preços das hortaliças tenham um alívio", diz Valério Borba, gerente da divisão técnica da Ceasa. Até agora deflacionado, o carro novo também ficará mais caro, em razão do aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e, provavelmente, pela alta de matérias-primas que tende a ser desencadeada pelo reajuste do minério de ferro.

"O que preocupa é que, como a economia está muito aquecida, há espaço para que os aumentos no atacado sejam repassados ao consumidor", avalia o economista Eduardo Otero, da Um Investi­mentos. O argumento de Otero, para quem a demanda pode superar a oferta de vários produtos e pressionar a inflação, é hoje o mais comum entre analistas.Entre a minoria está Fábio Romão, da LCA Consultores. Ele prevê que o IPCA nacional fechará o ano em 4,6%, pouco acima da meta central do BC (4,5%) e bem abaixo da projeção média do mercado (5,2%). "Preços monitorados, que representam 30% do IPCA, ficarão comportados. E os preços livres estarão mais salgados, sim, mas não a ponto de ficar longe da meta. Até porque há sinais de que a economia está desacelerando, o que já se observa nos preços do atacado."

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