Rio de Janeiro - A alta menos expressiva dos preços dos alimentos em fevereiro foi a grande responsável pela desaceleração da inflação percebida por famílias de baixa renda classe que destina 40% de seu rendimento a essa área de despesas, segundo dados da Fundação Getulio Vargas (FGV). Os alimentos passaram de uma alta de 1,32% em janeiro para 0,05% em fevereiro, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 (IPC-C1).
A desaceleração contribuiu para que o indicador da FGV usado para mensurar o impacto da movimentação de preços entre famílias com renda mensal entre 1 e 2,5 salários mínimos subisse 0,32% em fevereiro, após ter alta de 1,40% no mês anterior. "De dezembro para cá os preços dos alimentos começaram a apresentar algum alento", afirmou o economista da FGV André Braz.
Segundo Braz, descontando os alimentos in natura, que tradicionalmente sobem nesta época do ano por questões climáticas, os gêneros alimentícios passaram de uma alta de 1,35% em dezembro para -0,11% em janeiro e -0,47% em fevereiro.
Deflação
As chuvas fortes que atingiram algumas partes do país contribuíram para que os alimentos in natura ficassem mais caros. Hortaliças e legumes, por exemplo, subiram 13,09% em janeiro e 3,05% em fevereiro. Mas Braz destacou que a inflação de alimentos já não é tão forte quanto parece, pois há itens mais próximos à mesa do consumidor que estão até mesmo em deflação. São exemplos o arroz (de -0,88% em janeiro para -1,09% em fevereiro) e as carnes bovinas (de -0,60% para -2,34%).
"Alimentos que tiveram altas expressivas em 2010 agora estão devolvendo o aumento. As carnes, por exemplo, subiram 28,37% em 2010 e parte disso ainda voltará para o consumidor", afirmou. O economista citou no mesmo exemplo as carnes suínas (de 0,52% em janeiro para -0,74% em fevereiro) e o frango (de 1,06% para -0,09%)
Segundo Braz, é possível que os alimentos apresentem deflação em março, embora o índice geral do IPC-C1 se mantenha em patamar positivo. "Ainda há altas para serem devolvidas e as hortaliças devem continuar desacelerando, pois a oferta agora vai aumentar. Mas não dá para contar com esta estabilidade ao longo de 2011", disse. Braz lembrou já existir uma expectativa de pressão inflacionária sobre os alimentos no mundo em 2011 por causa de uma reduzida oferta mundial, estoques em baixa e condições climáticas desfavoráveis.
"Inflação dos vícios"
Em sentido contrário ao dos alimentos, o item despesas diversas pressionou a inflação para cima. Nesta conta, diz Braz, o destaque fica com cigarros e jogos lotéricos. "É a inflação dos vícios", brincou o economista.
Os cigarros passaram de 0,09% em janeiro para 2,68% em fevereiro, acumulando alta de 8,45% em 12 meses, enquanto o IPC-C1 no mesmo período foi de 6,79%. Os jogos lotéricos passaram de 2,67% para 9,36%, com alta de 12,28% em 12 meses. Já a cerveja vendida em supermercado desacelerou de 2,88% em janeiro para 1,26% em fevereiro, com alta de 11,46% em 12 meses. "Cigarros, jogos lotéricos e cervejas acumulam alta bem acima da inflação em 12 meses, houve aumento real", disse Braz.