A isenção de impostos federais da cesta básica deve tirar um peso e tanto da inflação deste ano nas estimativas mais otimistas, o IPCA ficará 0,6 ponto porcentual mais "leve". Mas o alívio pode ser apenas temporário, porque alguns fatores que vêm empurrando os preços para cima seguem existindo. Ou seja: o governo jogou água na fervura, mas o fogo continua aceso.
A questão é que parte da pressão inflacionária vem de fenômenos positivos, como o baixo desemprego, o aumento da renda da população e o avanço do consumo. Por isso, alguns economistas defendem que o governo acerta ao "gerenciar" a inflação com medidas pontuais e evitar atitudes drásticas. Outros, porém, argumentam que elevar a taxa de juros traria resultados mais consistentes, por influenciar ao mesmo tempo a demanda, as expectativas de empresas e consumidores e até o câmbio, reduzindo o custo das importações.
Segundo esse raciocínio, o remédio amargo da alta da Selic seria necessário porque a inflação está persistente e disseminada. Em fevereiro, nem a queda de 15% na energia impediu o IPCA de subir para 6,31% no acumulado de 12 meses. E, pelo terceiro mês seguido, mais de 70% dos produtos tiveram aumento de preço.
Devolução
Para André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, a redução de tributos é consequência natural da forte redução dos juros nos últimos anos a Selic, em 7,25% ao ano, é a menor da história.
"O governo está gastando menos com o pagamento da dívida. É justo devolver isso à sociedade", diz Perfeito. "Mas talvez falte um pouco de coordenação nessas medidas. Não vejo um planejamento da parte do governo."
Dinâmica ruim
Nas contas ainda preliminares de Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, a desoneração da cesta básica deve tirar 0,45 ponto do IPCA deste ano. A economista lembra que, também na sexta-feira, o governo confirmou que recursos do Tesouro vão diluir o efeito nocivo do uso de termelétricas sobre a conta de luz. "Isso tira mais 0,24 ponto do IPCA. Portanto, estamos revisando nossa projeção para 2013, de 6,1% para perto de 5,4%", explica.
Mas o fato de o governo conseguir afastar o índice do teto da meta (6,5%), diz Alessandra, não altera a dinâmica dos preços que, segundo ela, deve continuar "muito ruim".
Redução deve ser gradual, diz Apras
Antonio Senkovski, com agências
A redução de preços deve ser gradual, segundo o presidente da Associação Paranaense de Supermercados (Apras), Cesar Tozetto. A mudança ocorre à medida em que as mercadorias começam a ser repostas nas gôndolas. Se a isenção de impostos foi repassada integralmente ao consumidor, as quedas serão de 9,25% a 12,25% é o que deseja o Palácio do Planalto.
"Foi uma medida que nos pegou de surpresa", diz Tozetto. "No caso dos pedidos feitos, por exemplo, na quinta-feira, nós retomamos o contato para saber se o fornecedor já faturou o pedido na semana passada. Obviamente, pedimos que ele fature com a redução do preço para que tenhamos uma nova situação mais benéfica", relata.
Corte
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, se reuniu ontem com empresários dos setores de alimentos e supermercados e ouviu que uma parte da diminuição de impostos chegará hoje aos preços dos produtos. Os varejistas observaram que, para a maior parte dos itens da cesta, a queda será de 3%, enquanto a redução para carnes e produtos de higiene deve chegar a 6%. Dentro de duas semanas, quando o varejo recompor seus estoques, a redução será integralmente repassada. "O setor se comprometeu a repassar o mais depressa possível esse corte nos preços. É importante que os produtos mais baratos cheguem às prateleiras dos mercados, porque com isso o consumo vai aumentar, o que é bom para os empresários e para as famílias", disse Mantega. O ministro da Fazenda admitiu o interesse do governo em reanimar os investimentos do segmento de supermercados. "No ano passado, os investimentos do setor não cresceram muito, então esperamos que essa medida amplie a disposição dos empresários em investir, e que, assim, o setor aumente sua contribuição ao PIB", disse.
Inflação
De acordo com Mantega, o Ministério da Fazenda vai acompanhar a evolução do valor dos 16 itens da cesta básica por meio do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). "Esta forte queda de preços esperada vai ajudar o governo na luta contra a inflação", disse. A reportagem apurou que o governo trabalha com uma redução de 0,6 ponto porcentual no IPCA por conta da medida.
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