Opinião
"Venezuelização"?
Franco Iacomini, editor de Economia
Que bom que o governo percebeu que a inflação está alta. Neste momento, Brasília está tomando medidas que podem conter ou reduzir preços em três frentes: vai usar dinheiro do Tesouro para cumprir a promessa de baixar em média 20% as contas de luz (16% no caso dos consumidores residenciais); tentará convencer, na base da amizade, os novos prefeitos a não aumentar a tarifa do transporte urbano; e pretende adicionar mais álcool e, provavelmente, também cortar impostos da gasolina. Não vai dar certo. Pode conter o IPCA deste ano dentro da meta, mas os instrumentos são artificiais demais. No fim, quem paga todas essas contas é o contribuinte afinal, o governo também tem contas a pagar e precisa arrecadar. Usar dinheiro público para subsidiar o consumo é a estratégia da Venezuela. Rendeu muita popularidade a Hugo Chávez, mas quebrou o Estado. Melhor seria não arriscar.
Caso chegue às bombas de combustível, o reajuste de 7% no preço da gasolina previsto pelo governo federal poderá ter impacto direto entre 0,13 ponto e 0,28 ponto porcentual no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A elevação deve ocorrer no preço pago pelas distribuidoras ou seja, o preço das refinarias. A União estuda modos de reduzir esse impacto, entre eles, o aumento na proporção de álcool na gasolina e a redução de impostos que incidem sobre o combustível. Os preços da gasolina têm participação de 3,9% no IPCA.
Caso o governo, para amenizar o efeito do reajuste sobre os preços, eleve o porcentual da mistura do etanol sobre a gasolina de 20% para 25%, esse impacto tende a ser menor. Esse aumento da mistura não seria adotado de imediato, mas sim depois, provavelmente quando as prefeituras das principais capitais do país levarem suas tarifas de ônibus, o que deve pressionar bastante a inflação.
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, reconheceu ontem que recebeu pedido do governo federal para adiar o reajuste das passagens. O tema foi tratado com o prefeito de São Paulo pela presidente Dilma Rousseff e pelo ministro Guido Mantega, da Fazenda, que alegaram justamente o impacto sobre o índice de preços. "Nós não faremos agora o aumento da tarifa, devemos fazer mais para o meio do ano, possivelmente em junho", admitiu Haddad.
Prognósticos
O economista-sênior do Besi Brasil, Flávio Serrano, calculou um impacto de 0,18 ponto porcentual sobre o IPCA, sem nenhuma alteração tributária. Se a mistura de álcool na gasolina passar de 20% para 25%, esse efeito cairia para 0,14 ponto porcentual. "Depende do comportamento do preço do álcool. Mantidas as condições de mercado, seria isso", observou.
A economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Marzola Zara, calcula um impacto de 0,22 ponto porcentual no IPCA deste ano, considerando a manutenção de 20% da mistura de álcool anidro na gasolina. Já o economista Fábio Romão, da LCA Consultores, fala em 0,28 ponto. A estimativa, disse, tem como base o cenário em que o porcentual de 20% da mistura de etanol seja mantido no primeiro semestre e elevado 25% na segunda parte do ano.
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