Os efeitos do ciclo de aperto monetário promovido pelo Banco Central, que desde abril já realizou três altas dos juros, começaram a aparecer para o consumidor, segundo dados divulgados ontem pela autoridade monetária. Em junho, a taxa média cobrada nas operações em que os bancos são livres para definir o juro aplicado foi de 26,5%, alta de 0,7 ponto porcentual sobre o mês anterior. Em maio, ela tinha recuado.
Houve alta no juro médio cobrado de consumidores e de empresas. Aumentou também a taxa com recursos direcionados que incluem os financiamentos concedidos pelo BNDES, o crédito habitacional e o rural.
Por outro lado, mesmo com empréstimos mais caros, o calote recuou. A inadimplência média registrou queda de 0,3 ponto porcentual, pela primeira vez desde março, atingindo 5,2% das operações. Para o BC, a redução da inadimplência é consequência do alongamento dos prazos dos financiamentos e da mudança na política dos bancos, que passaram a exigir mais garantias dos tomadores.
"Tivemos períodos em que a parcela inicial de pagamento era baixíssima. A pessoa conseguia empréstimo sem aportar quase nenhum recurso e, ao ficar inadimplente, perdia muito pouco. Agora não. Isso ajuda a segurar a inadimplência", afirmou Tulio Maciel, chefe do departamento econômico do BC. A maior seletividade dos bancos teve reflexos também no volume de crédito concedido, que caiu em junho.
Isso fez com que o ritmo de crescimento do saldo de financiamentos na praça também diminuísse. Nos empréstimos às famílias com recursos livres, o avanço foi de 7,9% nos 12 meses encerrados em junho. Em 2010, chegou a 20%, mas veio caindo.
"Além da posição mais conservadora dos bancos, há a queda no nível de confiança dos tomadores. O mercado de trabalho está mais fraco, e as famílias, com menos capacidade de fazer financiamento", avalia Wermeson França, economista da LCA Consultores.
A participação dos bancos públicos no crédito total chegou a 50,3%, segundo o BC maior patamar desde março de 2007, início da série histórica.