Associações empresariais estão chiando. A Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) chegou a ressuscitar a campanha do pato amarelo. Mas o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, manteve o discurso de que o governo terá de subir impostos para cumprir a meta fiscal. O anúncio oficial é esperado para esta quarta-feira (29).
Para os críticos, um aumento na carga tributária vai matar na casca a tímida reação que a atividade econômica está ensaiando. A equipe econômica, por sua vez, insiste que é a estabilização das contas públicas, ainda que à custa de mais tributos, que vai garantir o crescimento econômico.
Economistas consultados pela Gazeta do Povo concordam mais com o Planalto que com o empresariado. Eles avaliam que, neste momento singular que vive a economia brasileira, um aumento de impostos – desde que seja pontual, conforme sustentam Meirelles e companhia – terá efeito mais positivo que negativo. Um argumento que, anos atrás, soaria surreal.
O raciocínio de quem rejeita mais tributos traça uma linha reta entre causa e efeito: mais impostos tiram renda do empresário e do consumidor, o que significa menos dinheiro para girar a roda da economia.
“Qualquer aumento de tributos, neste momento em que a economia ainda está fragilizada, só irá retardar o processo de recuperação e impedir o próprio crescimento de arrecadação no futuro”, disse, em nota, a Federação do Comércio de São Paulo (FecomercioSP).
A defesa da equipe econômica é mais sinuosa: ao reiterar seu compromisso de frear o crescimento da dívida pública, o governo colherá frutos como o aumento da confiança de empresários e consumidores e a atração de investimentos, o que por sua vez ajudará na recuperação da economia.
“Na teoria, imposto tem efeito recessivo. Mas o ponto principal hoje é a sustentabilidade da dívida. A questão fiscal está no centro de toda essa crise, e precisa ser sanada”, defende Luciano Nakabashi, professor de Economia da USP de Ribeirão Preto.
O economista Thiago Curado, da 4E Consultoria, avalia o aumento de impostos como “um mal necessário”. “Em situações normais, a gente sempre vai pensar que aumento de impostos e redução dos gastos do governo atrapalham uma retomada do crescimento econômico”, diz. “Mas, neste momento, o que teria efeito mais deletério sobre a atividade econômica seria o governo não sinalizar, de forma sólida, por uma dinâmica fiscal que seja sustentável no médio e longo prazo.”
Curado não vê saída da crise por meio de aumento no consumo da população ou dos gastos do governo. “A retomada precisa contar com essa perna dos investimentos privados. E eles só vêm se houver confiança, em especial na questão fiscal.”