O empresário Marco Follador é fã de consórcios. Comprou de microondas a salas comerciais| Foto: Ivonaldo Alexandre / Gazeta do Povo

Sem complicação

Operação menos burocrática encantou empresário

O empresário Marco Follador é um genuíno fã de consórcios. Ele já comprou muita coisa pelo sistema – bicicleta, microondas, motocicleta e carro – e continua participando de grupos. "Há muitos anos sou cliente de consórcio. Gosto da maneira como o esquema se encaminha, como uma poupança forçada", define.

Follador acaba de ser contemplado em um grupo de consórcio imobiliário do qual participa há dois anos. Com uma carta de crédito de cerca de RS 250 mil em mãos, o empresário quitou as duas salas comerciais que adquiriu no bairro Água Verde.

Cliente da Servopa, Marco Follador diz que escolhe o consórcio porque a burocracia é menor que nos financiamentos bancários. "Confio na empresa, com a qual já negociei em outras oportunidades, e acho que mesmo com a taxa de administração, o formato é mais simples e vantajoso", afirma.

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Histórico

Má gestão criou estigma para a modalidade

Os consórcios tiveram um período difícil no Brasil. Após um boom inicial na década de 1990, impulsionado pelo sucesso dos grupos formados para adquirir automóveis, muitas administradoras faliram por má gestão ou má fé, levando embora a poupança de milhares de brasileiros que foram obrigados a recorrer à justiça para reaver o dinheiro perdido. Os consórcios não estavam regulamentados e a derrocada gerou um descrédito generalizado ao modelo.

Depois que a lei 11.795 passou a vigorar, em 2009, novas regras de segurança para todo o sistema reabilitaram esse modelo de compra, além de trazer novidades, como a possibilidade de quitar financiamentos com carta de crédito.

A lei definiu cada grupo de consorciados como independente, com patrimônio separado de outros e também do capital da administradora. Dessa forma os consumidores não saem prejudicados caso a empresa vá à falência. A legislação própria dos consórcios é subordinada ao Código de Defesa do Consumidor.

Cadastro

Ao optar pelo consórcio, é fundamental checar se a empresa administradora está cadastrada no Banco Central e ver se ela possui alguma restrição ou mesmo um número muito grande de reclamações. Basta acessar o site do órgão: www.bcb.gov.br.

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Jovens também aderem

Casais entre 25 e 35 anos de idade são o principal público do consórcio imobiliário hoje, segundo o diretor da Senzala Corretora de Seguros, André Coutinho. Muitos já têm um imóvel e optam por essa modalidade de crédito para complementar o saldo a pagar no upgrade (aquisição de um imóvel maior). Mário Munhoz, gerente de negócios da Servopa na Região Sul, diz que os valores de contrato para esses clientes ficam entre R$ 80 mil e R$ 500 mil.

Tatiana, da Ademilar: consórcio é meio para renda futura

No Paraná, a cada cinco pes­­soas que assinam um contrato de financiamento para a compra do imóvel pelo Sistema Bra­­sileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), uma com­­pra o mesmo tipo de bem por meio de consórcio. É isso que mostram os dados do primeiro trimestre de 2013 da Associação Brasileira de Administradoras de Con­­sórcios (Abac). No ranking nacional, o Paraná é o sétimo estado em volume de negócios pelo sistema. O cenário é animador para um modelo de financiamento que amargou descrédito entre os consumidores brasileiros. Hoje, os consórcios exibem números vistosos e, no segmento imobiliário, as adesões crescem a cada ano.

De acordo com a entidade, no primeiro trimestre, foram registrados cerca de 8,4 mil contratos de compra de imóveis. Desses, 1,6 mil ou 19% tiveram cartas de crédito incluídas no negócio para adquirir casas, apartamentos ou salas comerciais.

Uma explicação está no perfil dos usuários, que vem mudando. Investidores e famílias das classes A e B começaram a aderir ao consórcio imobiliário.

Juros

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Um fator que está impulsionando a procura pelo consórcio de imóveis é o aumento da taxa básica de juros, que deve passar por novos reajustes até o fim deste ano, encarecendo o financiamento habitacional. Consultora de consórcios da Porto Seguro, Rafaela Wolf aponta que algumas administradoras identificaram aumento de até 20% na busca pelo consórcio desde abril desse ano, quando o Banco Central começou a subir a taxa básica de juros (Selic).

Se até o fim deste ano a Selic, atualmente em 8,5%, chegar à marca de 8,75% ao ano, o consórcio ficará mais atraente, diz a consultora. "É um negócio promissor para os próximos 20 anos", afirma. No consórcio de imóveis, as parcelas são corrigidas anualmente com base no Índice Nacional da Construção Civil (INCC), medido pelo IBGE, que tem se mantido na média de 7%, observa Rafaela Wolf.

Público

As classes A e B são o grande filão do consórcio imobiliário no momento porque, para adquirir a carta de crédito, o consorciado não pode comprometer mais de 30% da renda mensal com as prestações – regra que vale também para o financiamento imobiliário. Ao aderir a uma cota de R$ 200 mil para pagamento em 180 meses, a parcela mensal fica em R$ 1.350, em média. Nessa situação, o rendimento mensal mínimo seria de R$ 4,5 mil. Entretanto, em bairros afas­­tados do eixo central de Curitiba e na região metropolitana, há imóveis novos com preço abaixo de R$ 150 mil, o que torna possível a adesão de famílias de renda inferior: uma carta de crédito de R$ 100 mil para pagamento em 15 anos, por exemplo, teria prestação de cerca de R$ 690 por mês.

Valores mais altos são investidos como previdência privada

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O consorciado que entra em grupos com valor mais alto de crédito cresceu a ponto de inverter o jogo. Hoje esses investidores, que visam a compra de unidades para revenda ou para futura locação, são maioria na Ademilar. A empresa curitibana, fundada em 1991, vem experimentando grande expansão nos últimos anos. Em maio desse ano, a administradora, que atua também em outros estados, bateu recorde de vendas, com quase R$ 99,5 milhões em créditos comercializados.

O aumento no número de consorciados que buscam carta de crédito com valores acima de R$ 200 mil chamou a atenção dos gestores da empresa no ano passado, que lançou um novo produto, batizado de Aposentadoria Imobiliária Ademilar.

No site da administradora, é possível fazer uma simulação comparando o rendimento de um plano de consórcio de imóveis com um de previdência privada. "O imóvel pode garantir renda complementar para o aposentado através da locação, por exemplo", explica Tatiana Schuchovsky Reichmann, diretora superintendente da Ademilar.

Tatiana Reichmann lembra que o setor ficou conhecido por atender famílias de menor poder aquisitivo, que buscam nas parcelas de baixo valor uma forma de adquirir o primeiro imóvel. Agora o consórcio agrega o público de maior renda e deve atendê-lo adequadamente. "Sem os juros do financiamento e com a possibilidade de ser sorteado, situação que a poupança não oferece, o consórcio tem sido opção de investimento para as classes A e B".

A mesma realidade é vista em outra administradora de consórcio que atua na capital. A Embracon, com 15 mil clientes, atende muita gente interessada em pagar o consórcio como opção à previdência privada. "É uma ferramenta interessante porque funciona como investimento. Se o consorciado é contemplado por sorteio, pode adquirir um imóvel e pagar o restante das parcelas, ou parte delas, com a renda obtida com o aluguel", explica Paulo Fagundes, diretor de vendas da Embracon na Região Sul.

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Modalidade vale para quem não tem pressa

O consórcio imobiliário não é indicado para qualquer perfil de consumidor. Segundo consultores, a modalidade é boa para quem não tem pressa em comprar um imóvel e também não tem disciplina financeira. "Quem não consegue fazer poupança pode escolher o consórcio porque ele exige a disciplina e regularidade. Mas é adequado para quem está na compra do segundo imóvel ou para quem vai fazer o upgrade, porque as taxas cobradas das administradoras de consórcio, que giram entre 17% a 20% do valor, não são vantajosas para todos os casos", explica o professor da FAE Armando Rasoto, especialista em finanças e planejamento.

Aposentadoria

O professor faz um alerta para quem está pensando em adquirir um consórcio como parte de uma futura aposentadoria. "As administradoras vendem o conceito do aluguel futuro, mas é preciso lembrar que, se não houver inquilino para o imóvel, o bem gera custos em vez de ganhos. Além disso, nem sempre o valor do aluguel é compatível com o gasto que se teve com o imóvel", adverte Rasoto.

Colaborou Bia Moraes

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