Depois de registrar quedas seguidas nos últimos meses, o preço dos alimentos voltou a subir mais do que o esperado nas últimas semanas e deverá registrar a maior alta do ano no mês de outubro, de acordo com a previsão de analistas do mercado, exercendo pressão direta sobre a inflação.
O avanço dos preços dos alimentos distribuídos no país está relacionado a fatores domésticos e externos. Falta de chuvas, que comprometem pastagens, e redução da oferta de produtos de fornecedores como Rússia e Ucrânia, que estão desabastecidos pela seca, são algumas das razões que deverão justificar a alta mensal de 1,58% em outubro, segundo projeção da LCA Consultores.
"Este deverá ser o maior aumento verificado ao longo de todo o ano, até o final de dezembro, com base nas nossas projeções. No primeiro quadrimestre do ano, vimos que houve aumento dos preços, atingindo o maior pico em março. Porém, no segundo quadrimestre, os preços caíram mais que o esperado, com a interferência da sazonalidade, e agora voltam a subir", disse o economista da consultoria, Fabio Romão.
Em outubro, a previsão da consultoria é que o Índice de Preços ao Consumidores (IPCA), considerada a "inflação oficial" do país, do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), fique em 0,57%. No mês anterior, a variação foi de 0,45%.
Desde setembro, quando os alimentos voltaram a ficar mais caros, têm exercido maior pressão sobre a aceleração do índice de inflação as variações dos preços de feijão, arroz, carnes em geral, mas principalmente a bovina, frutas e trigo. O preço alto do grão, que encarece o tradicional pão francês, se justifica pelo fato de o Brasil não contar com produção suficiente para suprir a demanda interna, fazendo com que parte do trigo consumido seja importado.
Entre agosto e setembro, o IBGE mostrou que o grupo de alimentos e bebidas, que exerce a maior contribuição sobre a inflação oficial, apresentou alta de 1,08%. Só o item carnes, por exemplo, ficou 5,09% mais caro no mês anterior. O avanço do índice do grupo também teve influência dos aumentos de preços de produtos como açúcar cristal (5,66%), óleo de soja (5,47%) e frango (3,11%).
"A oferta está realmente reduzida. Não há como o clima seco predominante nesses últimos meses, em intensidade muito maior do que a observada em anos anteriores, deixar de afetar a produção, a distribuição. No caso da pecuária de corte, houve crescimento da demanda e consequente aumento do abate. A magnitude dos preços tem surpreendido", disse o economista da Tendências Consultoria Econômia, Gian Barbosa. Aliado a esses fatores, que contribuíram para o aumento do preço da carne, está o aumento da exportação do produto nos últimos meses.
Apesar de haver a tendência de que a variação dos preços de alimentos em outubro seja a mais expressiva de 2010, ainda é cedo para prever se essa alta será a maior dos últimos anos, na avaliação do economista da Fundação Getulio Vargas André Braz. "Realmente saiu do previsto, porque houve um conjunto de altas. Mas o poder de recuperação de alguns produtos é grande. Não deverá haver uma bolha causada por esses efeitos passageiros, que deverão ser devolvidos ao longo do segundo semestre", disse.
Para o economista da Tendências
Consultoria, as últimas prévias como as do Índice de Preços do Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe) e as do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) da FGV indicam que, em outubro, os preços continuarão em aceleração.
A partir de novembro, os preços dos alimentos ainda subirão, mas em ritmo menor, segundo os analistas, já que deverá haver leve redução da demanda interna e melhora dos fatores climáticos.
"Estamos iniciando um novo ciclo de crescimento mundial, mais moderado, que vai mitigar o preço das commodities. Os preços vão continuar subindo, mas em um ritmo mais lento", afirmou Romão.
Quanto à inflação, Gian Barbosa disse acreditar que outros itens, além dos do grupo de alimentação e bebidas, deverão pressionar a alta do índice. "Depois das eleições, deverão ser aplicados reajustes nas tarifas de transporte, por exemplo, o que deverá contribuir para acelerar a taxa de inflação. Não estamos muito otimistas."