A falta de uma recessão causada pelo preço do barril de óleo deve levar a mais investimentos. Capitalizadas, as companhias petrolíferas podem gastar mais com extração em pontos de difícil acesso. Empresas especializadas em fontes alternativas também podem aproveitar esta "janela" de desenvolvimento. "Aumentos no petróleo viabilizam outras tecnologias", diz o especialista no setor de energia Gilberto Januzzi, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Acho que a primeira prioridade deveria ser o incentivo ao uso mais eficiente do próprio petróleo", diz.
A maior dificuldade para a substituição do petróleo como fonte de energia é que ele é portátil. Um motor não precisa estar conectado a uma rede para funcionar, por exemplo, e o transporte de combustíveis é feito por caminhões e barcos para qualquer canto do planeta. "Ainda não existe uma opção viável para abastecer o mundo com líquidos como os derivados de petróleo", afirma Caio Pimenta, diretor da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip). Duas alternativas estão na frente: o hidrogênio e os biocombustívies. Os dois têm limitações.
O álcool e o biodiesel são viáveis como substitutos da gasolina e do diesel, mas a oferta é limitada ao espaço de cultivo. "O mundo não pode escolher entre plantar comida ou combustíveis", diz Giuseppe Bacoccoli, da UFRJ. Segundo estudos de uma universidade em Sydney, na Austrália, se todas as terras cultiváveis do mundo fossem usadas para o cultivo de biocombustíveis, elas supririam apenas 40% da demanda de energia atendida pelo petróleo e pelo gás natural, duas fontes finitas.
Outra opção em estudo para alimentar veículos, indústrias e geradores de eletricidade é o hidrogênio. A substância é um combustível que precisa de outro tipo de energia para ser separado e armazenado. "O hidrogênio não está disponível na natureza, é preciso gastar outro tipo de combustível para guardá-lo. A vantagem é que ele pode ser transportado", explica o físico Murilo Werneck Fagá, professor da Universidade de São Paulo (USP). Usinas hidrelétricas e nucleares, por exemplo, podem ser usadas nos horários de menor demanda para gerar a energia necessária no processo de armazenagem de hidrogênio.O domínio da tecnologia de célula de hidrogênio está em estágio avançado. Montadoras como a BMW já têm automóveis testando o combustível. Em Londres, alguns ônibus movidos a hidrogênio estão integrados à rede pública de transporte. "A técnica será importante, sem dúvida, mas esta não é uma solução energética. Teremos de encontrar fontes para gerar o hidrogênio", pondera Fagá.A visão geral entre especialistas em energia é a de que o futuro não será dominado por uma fonte única. Cada país terá de explorar seus potenciais para não ficar no escuro ou ter de racionar o uso de veículos. "Será preciso fazer uma combinação aperfeiçoada das opções disponíveis", afirma Gilberto Januzzi. (GO)
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