Balança
Estado tem déficit pelo 2.º mês seguido
Com importações superando as vendas ao exterior em US$ 111 milhões, a balança comercial do Paraná ficou deficitária pelo segundo mês consecutivo em setembro. Desde janeiro, o estado acumulou um saldo negativo de quase meio bilhão de dólares, que dificilmente será revertido: nos últimos três anos, a balança comercial ficou no vermelho no quarto trimestre e, ao que tudo indica, não será diferente em 2011. Se confirmada essa expectativa, o Paraná fechará o ano com déficit pela primeira vez em onze anos.
Essa mudança de perfil do estado que por muitos anos exibiu largos superávits comerciais se consolida só agora, mas teve origem em meados da década passada, quando as compras de importados passaram a crescer de forma mais rápida que as exportações.
Uma das explicações está no forte crescimento, nos últimos anos, das importações de petróleo matéria-prima da refinaria da Petrobras em Araucária e fertilizantes, cuja produção nacional ainda é insuficiente para atender à crescente demanda do agronegócio. Mas a razão determinante para o salto das compras de importados está mesmo na indústria.
Graças ao barateamento da taxa de câmbio, as fábricas do estado intensificaram as compras de máquinas e equipamentos (para modernizar o parque fabril), matérias-primas (em muitos casos, mais baratas que as nacionais) e também produtos acabados. O mesmo câmbio que impulsionou as compras minou a competitividade do produto nacional no mercado externo.
Um dos exemplos mais evidentes desse movimento, disseminado por quase toda a indústria brasileira, é o setor automotivo. As montadoras de automóveis, caminhões e máquinas agrícolas instaladas em Curitiba e região, que até 2008 mais exportavam que importavam, passaram a ser deficitárias em suas transações com o exterior, e fecharão 2011 com o terceiro déficit anual consecutivo.
As exportações do Paraná recuaram 10% de agosto para setembro, passando de US$ 1,82 bilhão para US$ 1,64 bilhão. Mas a valorização do dólar cuja cotação média subiu quase 10% no período, indo de R$ 1,60 a R$ 1,75 aliviou essa retração. Na conversão para reais, os empresários faturaram o equivalente a R$ 2,87 bilhões no mês passado, apenas 2% menos que em agosto. Essa vantagem cambial se manteve em outubro, quando a cotação média do dólar subiu para R$ 1,78, segundo dados consolidados até ontem.
A estimativa das receitas de exportação em moeda brasileira foi feita pela Gazeta do Povo a partir do cruzamento de estatísticas do Ministério do Desenvolvimento (MDIC) com o câmbio médio mensal, divulgado pelo Banco Central.
O avanço da taxa de câmbio é bem-vindo por empresas que vendem ao exterior, pois torna seus produtos mais baratos e competitivos lá fora. Mas, além de dar alguns sinais de esgotamento, a valorização recente representa um alívio apenas parcial para os exportadores, que enfrentaram câmbio desfavorável durante a maior parte do ano. No acumulado de janeiro a setembro, a cotação média da moeda norte-americana foi de R$ 1,63, contra R$ 1,78 em igual período de 2010 e R$ 2,08 em 2009.
A desvalorização sofrida pelo dólar nos últimos anos se refletiu nas receitas de exportação. Nos nove primeiros meses deste ano, o Paraná faturou US$ 13,2 bilhões com as vendas externas. O valor, recorde, é 24% superior ao do mesmo período de 2010. Na conversão para reais, no entanto, o avanço foi mais discreto, de 13%, para R$ 21,5 bilhões. Esse montante é um dos mais altos da história para o intervalo janeiro-setembro, mas ainda perde para o registrado em 2004 quando, graças a um dólar médio de quase R$ 3, os exportadores paranaenses faturaram o equivalente a R$ 22,2 bilhões nos nove primeiros meses do ano.
Crise
Apesar do recuo observado de agosto para setembro, ainda não se veem reflexos claros da crise internacional sobre as exportações paranaenses. Prova disso é que, em relação a setembro de 2010, as vendas ao exterior avançaram 22%.
Conta a favor do estado o fato de sua pauta exportadora estar cada vez mais concentrada em alimentos, cujo consumo não costuma sofrer fortes retrações, mesmo durante turbulências econômicas. Os produtos mais exportados no mês passado foram, na ordem, soja em grão, carnes e açúcar. Na soma dos três, os embarques recuaram 8% em relação a agosto, mas deram um salto de 62% sobre o valor de setembro do ano passado.
As indústrias automotiva e madeireira, cujos embarques recuaram em relação a agosto e na comparação com setembro de 2010, foram os destaques negativos do mês passado. Por sinal, dentre os dez grupos de produtos mais exportados pelo Paraná, somente veículos e madeira têm queda nas vendas neste ano, com baixas de 8% e 2%, respectivamente.
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