A alta do dólar, de quase 10% desde o início ano, começa a ser repassada para os preços ao consumidor. Empresas que dependem de insumos importados entre elas, fabricantes de eletrodomésticos e eletroeletrônicos ou que vendem produtos comprados no exterior, como vinhos e roupas, estão reajustando suas tabelas.
Nas últimas semanas, uma queda-de-braço em torno dos repasses vem sendo travada entre a indústria e o varejo. Com o consumo andando de lado por causa da inflação mais alta e do endividamento, o ambiente não favorece a elevação de preços e as negociações em torno dos reajustes têm sido difíceis.
"Não tem como não repassar. Se os preços ainda não subiram, certamente vão subir", diz o presidente da Associação Nacional de Produtos Eletrônicos (Eletros), Lourival Kiçula.
Segundo ele, o dólar afeta diretamente os preços de eletroportáteis, já que a maioria dos modelos à venda no país são importados. Além disso, também aumenta os custos de produção da chamada linha marrom (equipamentos de áudio e vídeo), que têm 90% dos componentes comprados no exterior.
No caso dos eletrodomésticos de linha branca, o problema é o preço do aço, que deixou mais caros compressores, chapas e motores. "Esse reajuste foi de dois dígitos e certamente terá impacto nos preços", diz o dirigente.
A expectativa do setor, segundo Kiçula, é de que o dólar se estabilize: "Todas as vezes que tentamos prever o que vai acontecer com o dólar, erramos feio. Acho difícil a moeda recuar muito, mas pelo menos que ela se estabilize. O pior é a oscilação da cotação".
Os componentes importados representam hoje de 20% a 60% das peças usadas na fabricação de eletroeletrônicos no Brasil, segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). Nesse mês, o setor reajustou os preços em 3%, em média. As maiores pressões estão em produtos como computadores, tablets e celulares, segundo a entidade.
Os aumentos também devem chegar aos alimentos e bebidas. A importadora Porto a Porto, que comercializa cerca de mil itens, entre vinhos, cervejas, massas, doces, bacalhau, conservas e azeites, vai aumentar em média em 10% os preços de todos os produtos a partir de agosto, segundo Pedro Corrêa de Oliveira, diretor-geral da empresa, que vende para supermercados, bares e restaurantes.
"Seguramos os aumentos até agora porque as vendas de bebidas caíram em função da Lei Seca e da substituição tributária. Além disso, tínhamos estoques. Agora, porém, teremos que reajustar" diz.
Câmbio "amigo" não garante superávit
Apesar do efeito positivo sobre as exportações, a valorização do dólar dificilmente vai reverter o complicado quadro do comércio exterior brasileiro. A queda na produção de petróleo e o recuo dos preços de matérias-primas devem fazer o Brasil fechar o ano com déficit na balança comercial. No primeiro semestre, o resultado foi negativo em US$ 3 bilhões.
Para o economista Roberto Zürcher, da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), embora torne a indústria de manufaturados mais competitiva, o câmbio mais elevado não tem efeito imediato em aumentar aos contratos de exportação.
Mercados como a China, que deve crescer menos, e a Europa, que ainda patina com a crise econômica ainda estão com demanda fraca. Além disso, contratos que foram perdidos nos últimos anos, levam tempo para serem recuperados.
O próprio empresário ainda não se sente seguro com o atual patamar do dólar para voltar a apostar em novos mercados, segundo o presidente da Eletros, Lourival Kiçula, que reúne os fabricantes de eletrodomésticos de linha branca, áudio, vídeo e eletroportáteis.
A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) revisou para baixo a projeção de resultado da balança comercial em 2013, para um déficit de US$ 2 bilhões, o primeiro desde 2000. A estimativa inicial, divulgada em dezembro de 2012, era de superávit de US$ 14,6 bilhões. A entidade prevê uma redução das exportações em 5%, para US$ 230,5 bilhões, e um aumento de 4,2% nas importações, para US$ 232, 5 bilhões.