10% de aumento terão os preços dos alimentos e bebidas vendidos pela importadora Porto a Porto. Reajuste entra em vigor em agosto.
Coleção de verão fica mais cara
As encomendas para a coleção de roupas de primavera e verão da loja Capitollium, em Curitiba, já estão sendo feitas com o dólar mais alto. "O impacto vai aparecer nas roupas que chegam às lojas em novembro, dezembro e janeiro", diz Christopher Oliver, proprietário.
Segundo ele, as roupas nacionais também estão mais caras, porque nos últimos anos muitas confecções, por questões de custo e variedade, passaram a comprar boa parte dos tecidos no exterior.
Apesar da alta, o empresário acredita que a mudança de patamar da moeda pode ser positiva, por reduzir a pressão dos produtos importados no mercado. "Com o dólar baixo, muita gente deixou de comprar no mercado nacional para comprar no exterior ou investiu mais em compras de sites no exterior. Agora há uma tendência de esse movimento se inverter", diz.
BC vê impacto inflacionário
Com a economia brasileira em desaceleração e a demanda mais fraca, as empresas terão mais dificuldade para repassar o efeito do câmbio. Mas o próprio Banco Central já prevê impactos inflacionários. Na última ata de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a autoridade monetária disse que a valorização do dólar constitui uma fonte de pressão inflacionária no curto prazo.
A velocidade do repasse da alta do dólar para os preços está cada vez mais alta, segundo analistas. Tradicionalmente, o repasse costumava chegar ao consumidor com um atraso de um a até dois meses, já que a indústria e o varejo trabalham com estoques. Agora, porém, a velocidade desse repasse tem sido maior quanto mais rápido é o ritmo do ajuste do câmbio e mais alto se torna o preço da moeda americana.
A alta do dólar, de quase 10% desde o início ano, começa a ser repassada para os preços ao consumidor. Empresas que dependem de insumos importados entre elas, fabricantes de eletrodomésticos e eletroeletrônicos ou que vendem produtos comprados no exterior, como vinhos e roupas, estão reajustando suas tabelas.
Nas últimas semanas, uma queda-de-braço em torno dos repasses vem sendo travada entre a indústria e o varejo. Com o consumo andando de lado por causa da inflação mais alta e do endividamento, o ambiente não favorece a elevação de preços e as negociações em torno dos reajustes têm sido difíceis.
"Não tem como não repassar. Se os preços ainda não subiram, certamente vão subir", diz o presidente da Associação Nacional de Produtos Eletrônicos (Eletros), Lourival Kiçula.
Segundo ele, o dólar afeta diretamente os preços de eletroportáteis, já que a maioria dos modelos à venda no país são importados. Além disso, também aumenta os custos de produção da chamada linha marrom (equipamentos de áudio e vídeo), que têm 90% dos componentes comprados no exterior.
No caso dos eletrodomésticos de linha branca, o problema é o preço do aço, que deixou mais caros compressores, chapas e motores. "Esse reajuste foi de dois dígitos e certamente terá impacto nos preços", diz o dirigente.
A expectativa do setor, segundo Kiçula, é de que o dólar se estabilize: "Todas as vezes que tentamos prever o que vai acontecer com o dólar, erramos feio. Acho difícil a moeda recuar muito, mas pelo menos que ela se estabilize. O pior é a oscilação da cotação".
Os componentes importados representam hoje de 20% a 60% das peças usadas na fabricação de eletroeletrônicos no Brasil, segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). Nesse mês, o setor reajustou os preços em 3%, em média. As maiores pressões estão em produtos como computadores, tablets e celulares, segundo a entidade.
Os aumentos também devem chegar aos alimentos e bebidas. A importadora Porto a Porto, que comercializa cerca de mil itens, entre vinhos, cervejas, massas, doces, bacalhau, conservas e azeites, vai aumentar em média em 10% os preços de todos os produtos a partir de agosto, segundo Pedro Corrêa de Oliveira, diretor-geral da empresa, que vende para supermercados, bares e restaurantes.
"Seguramos os aumentos até agora porque as vendas de bebidas caíram em função da Lei Seca e da substituição tributária. Além disso, tínhamos estoques. Agora, porém, teremos que reajustar" diz.
Câmbio "amigo" não garante superávit
Apesar do efeito positivo sobre as exportações, a valorização do dólar dificilmente vai reverter o complicado quadro do comércio exterior brasileiro. A queda na produção de petróleo e o recuo dos preços de matérias-primas devem fazer o Brasil fechar o ano com déficit na balança comercial. No primeiro semestre, o resultado foi negativo em US$ 3 bilhões.
Para o economista Roberto Zürcher, da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), embora torne a indústria de manufaturados mais competitiva, o câmbio mais elevado não tem efeito imediato em aumentar aos contratos de exportação.
Mercados como a China, que deve crescer menos, e a Europa, que ainda patina com a crise econômica ainda estão com demanda fraca. Além disso, contratos que foram perdidos nos últimos anos, levam tempo para serem recuperados.
O próprio empresário ainda não se sente seguro com o atual patamar do dólar para voltar a apostar em novos mercados, segundo o presidente da Eletros, Lourival Kiçula, que reúne os fabricantes de eletrodomésticos de linha branca, áudio, vídeo e eletroportáteis.
A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) revisou para baixo a projeção de resultado da balança comercial em 2013, para um déficit de US$ 2 bilhões, o primeiro desde 2000. A estimativa inicial, divulgada em dezembro de 2012, era de superávit de US$ 14,6 bilhões. A entidade prevê uma redução das exportações em 5%, para US$ 230,5 bilhões, e um aumento de 4,2% nas importações, para US$ 232, 5 bilhões.
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