Intervenções
Mantega admite rever medidas
Diante da forte alta do dólar nos últimos dias, o ministro Guido Mantega (Fazenda) sinalizou que não descarta revogar medidas tomadas para restringir a entrada de dólares no Brasil. Em entrevista a jornalistas ontem em Washington, onde participa da reunião anual do Fundo Monetário Internacional, ele deixou claro que os impostos sobre empréstimos feitos no exterior, investimentos de estrangeiros e aplicações cambiais podem ser revistos. "São medidas regulatórias feitas justamente para isso: colocamos e, quando não é mais necessário, tiramos", afirmou Mantega.
Durante boa parte do ano, a forte entrada de dólares no Brasil fez com que o real se valorizasse com muita força. Em julho, a moeda chegou a ter queda de 7,7% no ano. A preocupação com a volatilidade da moeda e com a indústria local, que sofre com as importações, fez com que o governo impusesse barreiras ao dólar.
Agora, porém, esse fluxo se inverteu. A piora generalizada do cenário global faz com que investidores busquem refúgio na divisa.
Apenas neste mês, o dólar já subiu 15% no Brasil. O ministério da Fazenda trabalha com dois cenários, ambos ruins. Um é de crise crônica na Europa e nos EUA, no qual o crescimento anêmico visto hoje persistiria. Nesse caso, diz, os emergentes continuariam a crescer, escorados na demanda interna e em suas reservas reforçadas.
O outro cenário é de piora que tem sido evocada por organismos multilaterais. Nesse contexto, os emergentes não escapariam. Segundo Mantega, o país está preparado para enfrentar a crise. O ministro, porém, não revelou que recursos poderá usar em caso de piora do cenário, mas disse que as ferramentas envolvem política monetária, e não fiscal. (Folhapress)
Brasília - Apesar da crise financeira internacional, os brasileiros elevaram os gastos no exterior em agosto. Segundo dados do Banco Central, as despesas com viagens internacionais foram de US$ 1,9 bilhão no mês passado, um novo recorde para o mês em agosto do ano passado, foi gasto US$ 1,3 bilhão. Mas, segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, para este mês já é possível ver uma queda em relação a agosto. Em setembro, até ontem, os turistas brasileiros já gastaram US$ 969 milhões no exterior.
"Nos dados de setembro a gente já vê um arrefecimento. Os números de junho, julho e agosto são um pouco mais fortes por causa da sazonalidade", disse Maciel. Mas, de acordo com ele, a recente alta do dólar também pode reduzir as despesas dos brasileiros no exterior. "Esse efeito do câmbio induz a um comportamento mais cauteloso. Há uma tendência de redução, mas, dada a volatilidade do câmbio, é natural que pessoas que tenham viagens à frente fiquem mais cautelosas. Elas podem gastar menos e, tendo uma viagem prevista, a aquisição de moeda estrangeira pode ser feita antecipadamente", afirmou o chefe do BC.
Entre janeiro e agosto desse ano, os turistas gastaram US$ 14,2 bilhões com viagens ao exterior. Esse valor já está perto do que foi gasto durante todo o ano de 2010, quando os brasileiros gastaram US$ 16,4 bilhões.
Investimentos estrangeiros
O rombo das contas externas foi maior que o previsto: US$ 4,86 bilhões no mês passado, acumulando nos últimos 12 meses déficit de US$ 49,7 bilhões, equivalente a 2,13% do PIB. O saldo negativo nas transações entre o Brasil e os demais países foi maior que a previsão do mercado, que previa déficit entre US$ 2,2 bilhões e US$ 4,3 bilhões. O resultado negativo, porém, foi integralmente coberto pelo Investimento Estrangeiro Direto (IED) que somou US$ 5,6 bilhões em agosto, também novo recorde para o mês. Esse fluxo é levemente menor que o verificado em julho, quando ingressaram liquidamente US$ 5,982 bilhões. Com isso, o valor acumulado no ano atingiu US$ 44,085 bilhões, cifra bem superior à de igual período de 2010 (US$ 17,153 bilhões).
A previsão do Banco Central para o déficit nas transações do Brasil com o exterior (transações correntes) para o ano de 2011 caiu de US$ 60 bilhões para US$ 54 bilhões. Essa queda se deve principalmente a uma revisão para o saldo da balança comercial, que subiu de US$ 20 bilhões para US$ 29 bilhões. Para isso, pesou o crescimento das exportações, estimado em US$ 258 bilhões ante US$ 250 bilhões em julho.
Análise
Fundamentos da estabilidade estão fracos, diz economista
O dólar caiu fortemente ontem, mas ainda manteve o patamar de R$ 1,80 (veja quadro nesta página). Em contraste com a jornada de quinta-feira, o Banco Central ficou ausente das operações de mercado na sexta. Mas o presidente Alexandre Tombini advertiu que a instituição está pronta para intervir novamente, caso considere necessário.
Para a economista da Galanto Consultoria e diretora-executiva do Instituto de Estudos de Política Econômica Casa das Garças, Mônica de Bolle, o cenário atual do mercado reflete uma "desorganização", por parte do governo, na gestão do chamado tripé da estabilidade macroeconômica: câmbio flutuante, superávit fiscal e meta inflacionária. Ela lembrou que o governo tem promovido intervenções no câmbio; elevações sucessivas de crédito via bancos públicos, o que influencia um cenário não muito positivo na área fiscal; e a perspectiva de não cumprimento de metas inflacionárias está cada vez mais forte. Para a especialista, o somatório desses fatores conduz a um ambiente macroeconômico com distorções, como parece ser o atual.
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