A economia brasileira sofre sua maior retração em 25 anos e a taxa básica de juros é a mais alta em quase uma década, mas nem assim as expectativas para a inflação param de piorar. O principal combustível para a projeção de um avanço mais forte dos preços em 2016 é a escalada da taxa de câmbio, que ganhou nova dimensão nesta terça-feira (22), quando o dólar comercial superou a marca de R$ 4 pela primeira vez.
A cotação do câmbio reflete as incertezas que têm mexido com o mercado. Está tudo ali: dos fatores externos, em especial o temor de que os Estados Unidos elevem sua taxa de juros ainda neste ano, às questões domésticas. Que não são poucas: a possibilidade de novos rebaixamentos na nota de crédito do país; o crescente déficit das contas públicas; as especulações sobre uma troca de comando no Ministério da Fazenda; o impasse nas relações com o Congresso; e até as dúvidas sobre a duração do governo Dilma.
Embora a alta do dólar possa pressionar os preços ainda neste ano, a inflação de 2015 já não interessa ao mercado. É dado como certo que o IPCA ficará acima de 9% e que a Selic permanecerá em 14,25% ao ano até dezembro. O que importa, agora, são os próximos anos. E as expectativas para 2016 e 2017, que por um breve momento abrandaram, estão novamente “desancoradas”, conforme o jargão da política monetária. Com isso, a esperada queda dos juros em 2016 começa a ficar ameaçada.
Entre maio e julho deste ano, as projeções para a inflação de 2016 compiladas pelo boletim Focus, do Banco Central, recuaram gradualmente até 5,4%. Mas voltaram a subir e, após sete altas seguidas, chegaram a 5,7% na semana passada. As estimativas para 2017, que no mês passado eram de 4,55%, agora estão em 4,74%. Na opinião do mercado, o IPCA só volta à meta de 4,5% em 2018.
Bancos e consultorias erram com frequência tais previsões, mas elas não deixam de ser importantes, pois as expectativas acabam influenciando a direção dos preços. “Enquanto o cenário político não se resolver, o estresse continuará e as perspectivas de inflação só tendem a piorar”, diz Márcio Cardoso, sócio-diretor da corretora Easynvest.
Marcio Milan, analista da Tendências Consultoria, também vê na política uma questão-chave. “Uma vez que não há nenhuma perspectiva de se acomodar todo esse barulho, é muito provável que continuemos observando piora nas expectativas inflacionárias”, avalia.