Ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, o economista Luís Eduardo Assis avalia que não há nada que o governo possa fazer para conter a trajetória de alta da moeda americana em relação ao real. "O que estamos assistindo é uma fuga para a qualidade", afirma o economista.
Ontem, depois que o dólar experimentou a cotação máxima de R$ 1 953 - no fim do dia fechou a R$ 1,910 -, surgiram no mercado especulações de que a equipe econômica poderia rever as medidas adotadas para conter a valorização do real em relação ao dólar, em especial o Imposto sobre Operações Financeira (IOF) de 1% sobre as chamadas posições vendidas de bancos e empresas que não casarem com as posições compradas.
Em entrevista à Agência Estado, o economista atenuou o impacto dessa natureza sobre o câmbio, alegando que a trajetória de alta do dólar é inevitável e reflete a fuga para a qualidade de investidores que estavam posicionados em juros.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
Com a alta do dólar, começam a surgir especulações de que o governo poderá rever as medidas adotadas recentemente para conter a valorização. Qual a sua avaliação sobre isso?
O governo até pode rever algumas medidas. Mas não será isso que vai resolver o problema. A trajetória de alta do dólar é inevitável, e quanto a isso não há muito o que fazer.
Por quê?
Porque o que estamos assistindo é uma fuga para a qualidade. E a qualidade, diante deste momento de crise, é o dólar. Por um tempo, a moeda americana ficou muito barata. O dólar foi vendido a R$ 1,80, a R$ 1,70 e ganhou-se muito dinheiro. Muita gente que fez arbitragem com juro está vendo agora o dólar subir e o juro cair. Estão ganhando menos e, antes que comecem a entrar no prejuízo, correm para o dólar como forma de congelar as perdas.
Então, quanto mais o dólar subir, mais gente vai querer comprar?
Pois é, o dólar ficou lá embaixo por muito tempo e agora se solta como se fosse uma mola. E quanto mais a moeda americana sobe, mais compradores vão aparecendo. Por isso é inevitável a trajetória de alta.
Enquanto o dólar estava baixo, o Banco Central (BC) aproveitou para comprar reservas internacionais. E agora?
Esse movimento mostra também que a ideia de que reservas internacionais são poupança para o Brasil é equivocada. Grande parte do ativo do BC (reservas) tem como passivo alguma empresa brasileira. Ou seja, as reservas têm como contrapartida dívidas. Não se sabe o quanto, mas é dívida.