O varejo de moda deve reduzir este ano o volume de produtos importados devido à desvalorização do real, enquanto negocia preços com fornecedores externos e aumenta a demanda por produtos de confecções brasileiras, que enfrentam baixa escala e dificuldades para fabricar roupas mais elaboradas.
A alta do dólar tem impacto especialmente nos preços de artigos de inverno, mais complexos que o vestuário de verão, apontou a Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex).
Em média, o setor de vestuário importa 15% dos produtos que vende, enquanto esse percentual pode chegar a 40% em algumas das grandes varejistas.
No caso da Lojas Renner, essa fatia está em cerca de 30%, mas deve ser reduzida caso o patamar da moeda norte-americana se mantenha alto. A estratégia é complementar aos mecanismos de mercado para proteção a oscilações do câmbio, já adotados pela companhia.
“Há flexibilidade de redução dos 30%. Podemos reduzir, mas é uma questão estrutural. Há falta de produtos no Brasil, principalmente das coleções outono/inverno”, disse à Reuters o diretor financeiro e de relações com investidores da empresa, Laurence Gomes.
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Leia a matéria completaNo quarto trimestre de 2014, as importações da Lojas Renner foram de R$ 112,5 milhões, alta de 34,4% frente a dezembro de 2013, segundo resultados da companhia.
A proteção cambial da Lojas Renner via hedge está garantida para 2015 no patamar de R$ 2,59. Mas, segundo o executivo, haverá esforços para negociar com fornecedores externos.
“Todos os anos nossa escala cresce. Nosso poder de barganha aumenta”, disse. Segundo ele, a capacidade de negociação da empresa melhorou após a abertura de uma representação em Xangai. As negociações para as coleções do início do ano que vem já começaram, explicou.
O novo patamar do dólar fará a varejista de roupas alterar o “mix” de produtos vendidos, tomando cuidado para não mudar o perfil “mulher moderna” da consumidora-alvo da marca.
Outro esforço para enfrentar o novo cenário é melhorar a eficiência e produtividade, e para isso a Renner aposta em sua nova plataforma de logística que será lançada em 2016. O projeto inclui auxiliar o desenvolvimento de fornecedores brasileiros, disse Gomes, sem dar mais detalhes.
Importações
A previsão é que a alta do dólar reduza o ritmo de aceleração das importações de vestuário, segundo projeções da Abit. No ano passado, as importações subiram 4,8%, enquanto este ano o crescimento projetado é de 4%.
Mesmo assim, o déficit da balança comercial do setor deve continuar aumentando. No ano passado, o déficit fechou em R$ 5,9 bilhões, e a previsão da Abit é que chegue a R$ 6,15 bilhões em 2015.
Dados do Iemi citados pela Abvtex indicam que o varejo de vestuário teve alta de 1,5% em volumes em 2014, para 6,5 bilhões de peças movimentadas. Em valores, a alta deve ser de 6,7%, atingindo R$ 183,9 bilhões. Para 2015, a projeção é de alta de 3,1% em volumes e de 8,6% em valores, após resultado fraco em 2014 por causa da Copa do Mundo de futebol.
Impacto nas coleções
Os efeitos da valorização do dólar serão sentidos nas coleções das varejistas de moda no segundo semestre deste ano, disse Marcelo Prado, diretor do Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi).
“Com certeza haverá seleção das importações. (As varejistas de moda) vão ser mais seletivas e é provável que parte das importações sejam direcionadas à produção nacional”, declarou Prado. “Mas isso não é algo simples, rápido. Não deve haver impacto na coleção outono/inverno, talvez na primavera/verão no segundo semestre”, disse.
“Existem vários fatores na competitividade do produto importado, inovação, escala, antecipação de coleção”, declarou.
Apesar disso, os fornecedores locais já sentem aumento da demanda após o repique do dólar, disse Rafael Carbone, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), apesar da produção física do setor como um todo ter caído 17% no primeiro bimestre na comparação com o mesmo período de 2014.
“A Abit tem discutido isso com o varejo”, declarou Carbone, sobre a necessidade de expansão das confecções brasileiras. A associação, que programa para o próximo dia 14 relançamento da Frente Parlamentar Têxtil em Brasília, defende isenções tributárias para o setor, para além do regime do Simples, que segundo a entidade limita o crescimento dessas empresas por estabelecer um teto para o faturamento anual.
Dados da Abit mostram que das 78 mil confecções existentes no país, 70 mil estão cadastradas no Simples, regime de tributação especial para pequenas e médias empresas.
“No curto prazo, o varejo está capacitando fornecedores, trabalhando para certificação, mas isso não resolve o problema estrutural”, disse Cerbone, lembrando que, no passado, as varejistas chegaram a cancelar pedidos de fornecedores locais após o dólar voltar a patamares inferiores.
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Leia a matéria completaDemanda
Algumas confecções confirmaram o aumento da demanda dos varejistas, como foi o caso da Vanelise, de Nova Veneza (SC), que fornece produtos para Lojas Renner, Riachuelo Marisa Lojas. A empresa tem mais de 100 funcionários, segundo o Iemi.
De acordo com funcionário do setor administrativo da Vanelise que não quis se identificar, as grandes redes varejistas nacionais estão fazendo mais cotações de preços este ano que em 2014, apesar de essas consultas ainda não terem se refletido em novos contratos.
Para a Vanelise, a demanda neste começo de ano por orçamentos foi maior para produtos elaborados, como camisas, vestidos, jaquetas e macacões. Shorts, calças e camisetas são considerados produtos básicos. “Se os pedidos vierem com certa programação, não de um dia para o outro, conseguiremos atender uma quantidade maior”, disse. A média da empresa é de produção de 200 mil peças mensalmente.
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