Ao final de um ano de "vacas magras" para agências e operadoras de turismo brasileiras, a alta do dólar dificulta o cenário e exige maior planejamento de quem quer ir ao exterior. Segundo relatório do Banco Central, em outubro, mês em que o dólar teve cotação máxima em R$ 2,52, os gastos dos brasileiros no exterior somaram US$ 2,12 bilhões, uma redução de 7,6% com relação ao mesmo mês de 2013. Com a instabilidade da moeda e o valor de R$ 2,65 atingido ontem o maior patamar desde abril de 2005 , as agências começam a perceber o receio dos clientes, que adiam os planos e passam a gastar com maior cautela.
Dados do Ministério do Turismo apontam que, em outubro, 6,5% dos brasileiros declararam pretender fazer pelo menos uma viagem internacional nos próximos seis meses. No mesmo período do ano passado, o número era de 7,2%. Segundo o presidente do Cofecon, Paulo Dantas da Costa, é evidente que as pessoas estão se precavendo. "O dólar alto tem reflexo imediato e se une à retração do consumo diante das incertezas econômicas", diz.
Roberto Bacovis, presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens no Paraná (Abav-PR), diz que as cotações solicitadas nas últimas semanas não têm gerado reservas. "Os clientes com maior poder aquisitivo demoram mais para fazer a compra, mas não deixam de ir. Já as pessoas mais simples preferem esperar", diz.
Recomendações
As recomendações são ficar de olho nas promoções já que ainda há boas oportunidades inclusive para o início do ano e muito planejamento. O ideal é começar a comprar dólar com antecedência, um pouco a cada semana, para garantir um valor médio. Os cartões de crédito, pré-pagos e cheques de viagem devem ser evitados, devido ao IOF de 6,38% e à oscilação da moeda americana. "A melhor solução é ir comprando aos pouquinhos, hoje, amanhã e sempre, independente de qualquer oscilação", diz José Martins, diretor da BTG viagens.
A advogada Elaine Mainardes e o engenheiro agrônomo Flávio Swiech escolheram ir para os Estados Unidos em outubro, devido à baixa temporada, mas se arrependeram de deixar para comprar dólar um dia antes da viagem. "A máxima quem não converte não se diverte é verdadeira, mas é inevitável pensar em reais. Com o dólar mais baixo, teríamos comprado muito mais", conta Elaine.
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Operadoras de Turismo (Braztoa), Marco Ferraz, a volatilidade afugenta o viajante mais do que a própria alta. "Eles adiam a decisão, pois ficam inseguros com a instabilidade, com medo de estar com as passagens compradas e ter que enxugar o orçamento para compras e lazer". Já com a estabilidade, mesmo em um valor elevado, as pessoas se acostumam e, mais seguras, retomam os planos, completa Ferraz.
À espera de dias melhores
O ano de 2014 não vai deixar saudade para os agentes de turismo. A Copa do Mundo e as eleições presidenciais, que tiveram grande peso na queda da venda de pacotes de viagens principalmente para o exterior, se somaram à alta do dólar e às dificuldades que a economia do país enfrenta. "A procura melhorou após as eleições. Já em 2015 deve ser mais positivo, haverá muitos feriados prolongados, isso faz com que o brasileiro queira viajar", diz Augusto Fontoura Benzi, diretor comercial da Interlaken Turismo.