Pesquisa mostra que 6,5% dos brasileiros querem viajar ao exterior nos próximos seis meses – ano passado, porcentual era de 7,2%| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Cotação

Apesar da alta, a moeda americana continua competitiva

Mesmo com a alta, o dólar continua atraente para os brasileiros que vão às compras, já que o mercado brasileiro continua com baixa competitividade, o que estimula os gastos no exterior. "Infelizmente continua valendo a pena comprar fora. Os impostos no Brasil são um absurdo, pagamos R$ 2,61 no dólar e ainda assim compensou", diz a advogada Elaine Mainardes, que viajou aos EUA em outubro .

Segundo ela, o que doeu no bolso durante a viagem foram as atividades de lazer e alimentação. "O valor pesa mais no psicológico, com a troca feita à vista, mas na hora de colocar no papel, a vantagem fica evidente", explica Alessandro Catenaci, diretor da Flex Cambio.

Além disso, quem pesquisa promoções de passagens pode encontrar ofertas atraentes."A médio prazo o dólar é preponderante na questão de escolher um pacote de viagens. Destinos nacionais como o Nordeste continuam mais caros", diz José Martins, diretor da BTG viagens. Segundo ele, as próprias companhias aéreas já absorveram o impacto da alta e estão oferecendo bons descontos para ganhar em número de passageiros, garantindo a cobertura dos custos operacionais.

Preferidos

Os destinos nacionais continuam correspondendo a cerca de 70% das viagens dos brasileiros. Segundo Augusto Fontoura Benzi, diretor comercial da Interlaken Turismo, o hábito de viajar se incorpora cada vez mais à cultura do país e, com a alta, as pessoas passam a procurar destinos nacionais ou de países latino-americanos como Peru, Chile e Colômbia.

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Em alta

O dólar manteve a tendência de alta e avançou ontem 0,30%, cotado a R$ 2,659. Ao longo do dia, a moeda americana chegou a superar a barreira dos R$ 2,67. O avanço do dólar em relação ao real indica que a moeda americana deverá permanecer em novo patamar, mesmo se a economia brasileira der sinais de melhora para o mercado. Dessa forma, a tarefa do BC de controlar a inflação deverá ser ainda mais difícil, o que pode obrigar a um aumento acima do previsto da taxa básica de juros (Selic) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária.

Ao final de um ano de "vacas magras" para agências e operadoras de turismo brasileiras, a alta do dólar dificulta o cenário e exige maior planejamento de quem quer ir ao exterior. Segundo relatório do Banco Central, em outubro, mês em que o dólar teve cotação máxima em R$ 2,52, os gastos dos brasileiros no exterior somaram US$ 2,12 bilhões, uma redução de 7,6% com relação ao mesmo mês de 2013. Com a instabilidade da moeda e o valor de R$ 2,65 atingido ontem – o maior patamar desde abril de 2005 –, as agências começam a perceber o receio dos clientes, que adiam os planos e passam a gastar com maior cautela.

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Dados do Ministério do Turismo apontam que, em outubro, 6,5% dos brasileiros declararam pretender fazer pelo menos uma viagem internacional nos próximos seis meses. No mesmo período do ano passado, o número era de 7,2%. Segundo o presidente do Cofecon, Paulo Dantas da Costa, é evidente que as pessoas estão se precavendo. "O dólar alto tem reflexo imediato e se une à retração do consumo diante das incertezas econômicas", diz.

Roberto Bacovis, presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens no Paraná (Abav-PR), diz que as cotações solicitadas nas últimas semanas não têm gerado reservas. "Os clientes com maior poder aquisitivo demoram mais para fazer a compra, mas não deixam de ir. Já as pessoas mais simples preferem esperar", diz.

Recomendações

As recomendações são ficar de olho nas promoções – já que ainda há boas oportunidades inclusive para o início do ano – e muito planejamento. O ideal é começar a comprar dólar com antecedência, um pouco a cada semana, para garantir um valor médio. Os cartões de crédito, pré-pagos e cheques de viagem devem ser evitados, devido ao IOF de 6,38% e à oscilação da moeda americana. "A melhor solução é ir comprando aos pouquinhos, hoje, amanhã e sempre, independente de qualquer oscilação", diz José Martins, diretor da BTG viagens.

A advogada Elaine Mainardes e o engenheiro agrônomo Flávio Swiech escolheram ir para os Estados Unidos em outubro, devido à baixa temporada, mas se arrependeram de deixar para comprar dólar um dia antes da viagem. "A máxima ‘quem não converte não se diverte’ é verdadeira, mas é inevitável pensar em reais. Com o dólar mais baixo, teríamos comprado muito mais", conta Elaine.

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Segundo o presidente da Associação Brasileira de Operadoras de Turismo (Braztoa), Marco Ferraz, a volatilidade afugenta o viajante mais do que a própria alta. "Eles adiam a decisão, pois ficam inseguros com a instabilidade, com medo de estar com as passagens compradas e ter que enxugar o orçamento para compras e lazer". Já com a estabilidade, mesmo em um valor elevado, as pessoas se acostumam e, mais seguras, retomam os planos, completa Ferraz.

À espera de dias melhores

O ano de 2014 não vai deixar saudade para os agentes de turismo. A Copa do Mundo e as eleições presidenciais, que tiveram grande peso na queda da venda de pacotes de viagens principalmente para o exterior, se somaram à alta do dólar e às dificuldades que a economia do país enfrenta. "A procura melhorou após as eleições. Já em 2015 deve ser mais positivo, haverá muitos feriados prolongados, isso faz com que o brasileiro queira viajar", diz Augusto Fontoura Benzi, diretor comercial da Interlaken Turismo.