O aumento do ICMS terá impacto significativo no bolso dos paranaenses. A alta do imposto, que entrou em vigor na quarta-feira (1.º) e fatalmente será repassada aos preços, deve reduzir o poder de compra da população em cerca de R$ 800 milhões em um ano e pressionar a já elevada inflação local. O impacto no IPCA da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) pode chegar a 1,45 ponto porcentual, inflando um índice que, até fevereiro, acumulava alta de 7,93% em um ano.
O pacote que tenta salvar as finanças do governo estadual elevou de 12% para 18% a alíquota de milhares de mercadorias, revertendo quase toda a minirreforma tributária feita em 2008 pelo governo Roberto Requião. Isso significa que o peso do tributo estadual em itens como roupas, artigos de higiene pessoal, móveis e eletrodomésticos aumentou 50%. Medicamentos também estavam na lista, mas um decreto de última hora do governador Beto Richa manteve o ICMS em 12%.
“Um aumento de 6 pontos porcentuais é muito relevante. Dentro dos setores de comércio e distribuição, são raros os segmentos que conseguem chegar a uma margem de lucro de 6%. As empresas não têm como absorver essa alta do imposto”, observa Carlos Tortelli, sócio da Consult Consultoria Empresarial.
Segundo o Departamento Econômico da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), os produtos com alíquota elevada de 12% para 18% vão ficar, em tese, 7,32% mais caros. No caso da gasolina, cujo ICMS subiu de 28% para 29%, o “efeito teórico” da alta do ICMS no preço é de 1,41%.
Menos consumo
O superintendente da Associação Paranaense de Supermercados (Apras), Valmor Rovaris, diz que o impacto é mais forte para os produtos submetidos à substituição tributária, regime em que todo o imposto é recolhido no início da cadeia produtiva. “A substituição estabelece margens de valor agregado que por vezes são superiores às margens reais”, diz. Rovaris avisa que os supermercados provavelmente vão repassar todo o reajuste do ICMS aos preços. “A margem de um supermercado não chega a 2%. Se não repassar, ele quebra.”
Com produtos mais caros, apontam empresários, a tendência é de queda no consumo, o que afetaria os resultados do comércio – que declinam desde o ano passado – e da indústria, que há tempos convive com queda na demanda e na produção. “O governo pode estar dando um tiro no pé. Com o consumo diminuindo, cai também a circulação econômica e consequentemente a base de arrecadação de impostos”, diz João Eloi Olenike, presidente executivo do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT).
Até a publicação do decreto que mantém o ICMS dos medicamentos, os economistas da Fiep estimavam que o aumento do imposto reduziria o poder de compra da população em pelo menos R$ 956 milhões em um ano. O valor equivale a 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual e leva em conta assalariados, aposentados e pensionistas com renda mensal de até cinco salários mínimos.
Cálculo
A Fiep ainda está refazendo suas contas, mas um cálculo aproximado feito pela Gazeta do Povo indica que, com a exclusão dos medicamentos do rol de produtos com imposto elevado, a redução do poder de compra deve ficar próxima de R$ 800 milhões.