Puxado pelo custo com gasolina, passagens aéreas e alimentação, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,92% em dezembro, a maior desde 2002. No acumulado de 2013, a taxa, que baliza as metas de inflação do governo, fechou em 5,91%, superando as projeções mais pessimistas do mercado financeiro. O resultado jogou por terra as previsões do Ministério da Fazenda e do Banco Central (BC) de contabilizar em 2013 uma inflação inferior à de 2012, de 5,84%.
O governo minimizou o dado, enquanto diversos economistas alertaram para a gravidade do problema da inflação, projetando um quadro ainda de alta neste ano. "Não há nenhuma perspectiva futura de descontrole da inflação", defendeu o secretário-executivo e ministro em exercício da Fazenda, Dyogo Oliveira. Por outro lado, a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria Integrada, classificou o resultado como "desastroso", levando em conta o esforço com desonerações e com o controle dos preços administrados, como o da energia elétrica. "É muito ruim, em um ano no qual o governo fez de tudo e tomou medidas que custaram caro", disse.
Analistas preveem inflação pressionada para este ano porque consideram inviável a continuidade do controle sobre preços administrados e desconfiam da disposição do BC em elevar a Selic taxa básica de juros, hoje em 10%. Para o economista-sênior do Besi Brasil, a inflação no Brasil está se consolidando no nível de 6% ao ano. "A inflação está estabilizada, mas não controlada, porque controlada é uma inflação de 4,5%", disse, citando a meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Na avaliação do economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, o resultado do IPCA de 2013 mostra que a perspectiva para a inflação em 2014 dificilmente registrará uma alta nos preços inferior à do ano passado. Ele lembra que houve um represamento da inflação em 2013, com desonerações ao longo do ano em energia, IPI e com aumento da gasolina abaixo do esperado.
"Temos um IPCA que não está num nível real, está abaixo", resumiu o economista, que trabalha com um cenário de IPCA em torno de 6,5% em 2014.
Transportes puxaram alta do IPCA de dezembro
A aceleração da inflação em dezembro foi puxada pelo reajuste dos combustíveis (em 30 de novembro) e pelos preços das passagens aéreas a gasolina subiu 4,04% e contribuiu com 0,15 ponto porcentual no índice e as passagens de avião avançaram 20,13%, contribuindo com 0,12 ponto.
Para os analistas, houve surpresa com a gasolina. A expectativa era de que a alta de 4% no combustível na refinaria gerasse reajuste de 2% para os consumidores. Entre os motivos para explicar o aumento estão um repasse maior das redes de combustível e a alta nos preços do etanol, que é misturado na gasolina. Influenciada pela entressafra da cana-de-açúcar, a alta dos preços do etanol acelerou de 0,94%, em novembro, para 4,83%, em dezembro.
Em 2013, o Grupo Alimentação e Bebidas foi o principal destaque no IPCA, com alta de 8,48% e impacto de 2,03 pontos porcentuais. Em seguida vem o Grupo Despesas Pessoais, com alta de 8,39% e impacto de 0,87 ponto.