A leve alta da taxa básica de juros de 11% para 11,25% ao ano terá pouco efeito sobre a inflação, pelo menos no curto prazo, mas mexeu com as expectativas do mercado financeiro. A notícia foi bem recebida pelos investidores: o principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo subiu 2,52% e o dólar comercial recuou 2,45%, para R$ 2,408, ontem.
Com o avanço dos bancos públicos e seu crédito subsidiado, um pequeno aumento da Selic tem influência muito discreta sobre o crédito e o consumo e, portanto, sobre a inflação. Mas o fato de o Banco Central ter tomado tal decisão apenas três dias após a reeleição de Dilma Rousseff, antecipando um movimento que era esperado apenas para o início de 2015, deu a entender que o governo admite que a inflação não está assim tão controlada, ao contrário do que insistia a presidente durante a campanha eleitoral.
Para boa parte dos analistas, a medida também passou a impressão de que o Planalto pode mudar de atitude em relação à política fiscal, hoje vista como condescendente. "Reconhecer que o problema existe é o primeiro passo para começar a tratá-lo", resume Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Em suma, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC conseguiu fazer muito com uma atitude simples. Teoricamente ruim para a economia, o aumento dos juros acabou repercutindo como um primeiro passo na reconquista da confiança dos investidores, considerada fundamental para a retomada do crescimento. "Foi, de fato, um bom momento para sinalizar os rumos que se pretende dar à política econômica", avaliou a consultoria Rosenberg.
Para a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, o Banco Central provavelmente quis surpreender os mercados "justamente para não ter que elevar muito a Selic". "A preocupação com o déficit de credibilidade do governo parece bastante relevante, diante da menor boa vontade das agências de classificação de risco e investidores. Esse receio se traduz em esforços para sinalizar uma política econômica cautelosa. O primeiro sinal concreto veio do Copom", escreveu Zeina em artigo enviado a clientes da corretora.
Márcio Cardoso, sócio-diretor da corretora Easynvest, acredita que, se Aécio Neves tivesse vencido a eleição, o mercado não precisaria ver uma alta dos juros para saber que a política econômica iria mudar. "Então o governo reeleito fez isso logo para indicar que pretende fazer algumas alterações. Mas é preciso esperar para saber até onde vai essa disposição", diz.
Mais sinais
A repercussão positiva terá vida curta se não vierem novos sinais na mesma direção. "Foi importante, mas não suficiente. É preciso mais", diz Oliveira, da Anefac. "Precisamos saber quem será o presidente do BC, o novo ministro da Fazenda, se terão alguma independência e, especialmente, qual será o grau de interlocução entre os dois. Porque não adianta, como vimos meses atrás, o Banco Central tomar medidas numa direção e a Fazenda, em outra."
Avaliação
Analistas esperam ciclo curto de elevação da taxa básica
Bancos e consultorias veem a elevação de 0,25 ponto porcentual como a primeira de um novo ciclo de aperto monetário. Que, no entanto, deve ser curto. "Não deve ser um ciclo muito grande, conforme deixa entrever a fala [da nota do Copom] sobre antecipar o ajuste para que ele seja menos custoso", afirmou comunicado da consultoria Rosenberg.
Na avaliação do Itaú, a Selic deve voltar a subir 0,25 ponto em dezembro, encerrando 2014 em 11,5% ao ano. "Para 2015, o cenário dependerá da evolução da taxa de câmbio e da inflação nos próximos meses, além da definição da equipe econômica do próximo governo", escreveram economistas do banco, em nota.