Na primeira carta pública como presidente do BC, Gabriel Galípolo precisou justificar o estouro do teto da meta em 2024, com descontrole das expectativas.| Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
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O Banco Central (BC) endureceu a partir de dezembro a política de juros para conter a disparada da inflação e sinaliza que deverá reforçar a dose. A diretoria da instituição avaliará no fim de janeiro projeções de alta geral dos preços até o terceiro trimestre deste ano, que seguem além da tolerância.

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Na última reunião de 2024, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC elevou a taxa básica de juros (Selic) em um ponto percentual, para 12,25% ao ano, e indicou novos aumentos em seguida, projetando 14,25% em março. A decisão se deveu à piora de expectativas e à ruína fiscal do país.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2024 foi de 4,83%, acima do teto da meta, de 4,5%. Na carta divulgada sexta-feira (10) para justificar o descumprimento, o BC elevou em um ponto a projeção da taxa real de juros (Selic menos inflação) para 9,8% no segundo trimestre.

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Este cenário, dizem analistas de mercado, segue desafiador. Segundo Angelo Guerra Netto, sócio da EXM Partners, isso se deve ao longo ciclo de alta dos juros, que agrava a crise de empresas endividadas ao dificultar crédito e reduzir consumo, comprometendo a recuperação e até de sobrevivência delas.

A indústria recuou 0,6% em novembro, embora registre alta anual de 3,2% até novembro de 2024. O desempenho expressivo ao longo do ano esfriou com juros altos, inflação crescente e descrença na política econômica, anota relatório do G5 Partners, que vê mais desaceleração nos próximos meses.

Para Igor Cadilhac, economista do PicPay, a expansão acima de 3% estimada para a indústria em 2024 não se repetirá neste ano devido à desaceleração da economia global e aos juros altos. Ainda assim, ele prevê queda moderada, graças à demanda interna, às exportações e aos estímulos do governo.

A carta do BC para explicar o descumprimento da meta, assinada pelo presidente Gabriel Galípolo, foi a última com horizonte anual. A partir de 2025, passa a vigorar a avaliação do cumprimento num horizonte contínuo de 12 meses, caso a inflação acumulada no período ficar fora da tolerância.