Chacoalhou o mercado na segunda-feira (22) a notícia da expansão da Amazon no Brasil, com vendas de produtos próprios e a criação de um centro de distribuição de 47 mil metros quadrados em Cajamar, na grande São Paulo.
Só com os rumores iniciais, antes do anúncio oficial, as concorrentes Magazine Luiza e B2W despencaram, respectivamente, 3,26% e 4,13% no pregão de segunda-feira (21). Por motivos particulares, a Via Varejo ficou de fora desse movimento brusco e caiu apenas 1,64%. Depois do anúncio de fato, à meia noite desta terça (22), nesta terça-feira, Magazine Luiza caiu 2,96%; B2W, 1,15% e Via Varejo subiu 2,71%.
Entre os analistas, há praticamente consenso: não há motivo para pânico.
Para Betina Roxo, analista da XP Research, a Amazon ainda precisa de muito feijão com arroz se tiver intenção de ocupar o espaço das grandes varejistas nacionais.
Há desafios logísticos, tributários (o que é difícil para empresas locais se torna um entojo para as estrangeiras) e de penetração da marca em si próprios do nosso país que ainda não estão perto de resolução pela companhia de Bezos. “No Brasil, ninguém conhece a Amazon: todo mundo conhece Magazine Luiza e Lojas Americanas”, resumiu.
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Henrique Bredda, gestor do Alaska Black, fundo que notoriamente lucrou muito com a alta do Magazine Luiza desde 2016, complementou em seu Twitter: “O problema principal é cultural. No fundão do Brasil loja física é importante”.
O que a Amazon não tem
Apesar da criação de um moderno centro de distribuição, a Amazon não terá uma rede própria de entrega por aqui, dependendo das parcerias (caras) como os Correios, Loggi, Total, entre outras. Enquanto isso, o Magazine Luiza se gaba da Malha Luiza – com 1.700 microtransportadores – responsável por ter regularizado todas entregas da empresa em menos de uma semana no caótico período da greve dos caminhoneiros no ano passado.
O Fullfillment by Amazon, serviço de estocagem e entrega para os clientes do marketplace, também ficou de fora das novidades, diferentemente do que foi especulado pelo mercado anteriormente.
Pesa, ainda, a limitação de estoque. Por enquanto, a Amazon ficou de fora das categorias de linha branca (eletrodomésticos), que, de acordo com analistas do Brasil Plural, são estratégicas para os players brasileiros. “Continuamos a ver as operações da Amazon no Brasil sem um grande diferencial, como a empresa já possui em outros mercados que suas operações já estão bem estabelecidas”, dizem os analistas do banco.
Também vale uma reflexão de Henrique Bredda sobre o “fim” de empresas com a chegada de estrangeiros. Nesta segunda, ele tuitou a respeito. “Bancos gringos vão acabar com os bancos locais! Década de 90; Walmart, a mais poderosa e valiosa cia do mundo em 2004, vai acabar com os supermercados locais! 2004; Hertz, Avis vão acabar com a Localiza! Nem lembro quando. Amazon vai acabar com os varejistas locais”, ironizou, deixando a conclusão em aberto.
Resta saber se a lógica é esta ou outra, mais focada em inovação. A Amazon tem tecnologia diferenciada, incluindo seu modo de organização e automação de centros de distribuição. Se a disrupção for intensa o suficiente, pode ser que a Amazon não seja equiparável ao que bancos gringos são para o Itaú, mas sim ao que a Netflix representou às locadoras de vídeo ou mesmo para a tevê a cabo.
Via Varejo na mira da Amazon?
Entre 5 de dezembro de 2018 e 9 de janeiro deste ano, a Via Varejo despencou 22,89% na bolsa. Desde então, vem se recuperando (alta de 19,7%). Esta maré de correção pode ser um motivo para a ação ter “ignorado” a novidade da Amazon no pregão de segunda-feira (21).
Ainda há, nos bastidores, alguma especulação que pode ser relacionada à alta expressiva nesta manhã (22). Segundo uma fonte do mercado, há quem acredite em uma potencial compra da Via Varejo (que de fato foi colocada à venda pelo grupo Casino) pela própria Amazon.
Um analista que não quis se identificar, porém, disse achar improvável essa investida no momento atual. Com desafios de penetração em outros mercados mais importantes, como a Índia, o Brasil talvez não seja prioridade para uma aquisição (investimento normalmente significativo).
A expansão da venda direta já demorou mais que o antecipado, de acordo com a fonte, graças a problemas tributários e de sistema – e o anunciado nesta semana é mais tímido que a previsão dos analistas (sem o FBA, por exemplo).
Em entrevista ao InfoMoney, o diretor de varejo da Amazon revelou que qualquer mudança nos mercados onde atua sempre é feita conforme a empresa sente já estar “pronta”. Daí a demora para a venda direta de outros produtos para além dos livros.
Por último, vale destacar o histórico de compras da gigante. “Eles compram sempre operações estratégicas”, disse a analista. Adquirir a Via Varejo, com suas mil lojas pelo Brasil e duas marcas consolidadas (Pontofrio e Casas Bahia), lhe parece trabalho e investimento demasiados por ora.