As ações brasileiras do setor de varejo sofreram um abalo na semana passada, na esteira da chegada da Amazon Prime - que combina oferta de frete grátis em compras com acesso a serviços de streaming, por R$ 9,90 -, mas analistas dizem que, no longo prazo, as empresas têm como se defender das investidas da gigante americana no mercado nacional.
O efeito nos papéis das líderes brasileiras do e-commerce não foi desprezível. Em dois dias, o Magazine Luiza somou desvalorização de 11%; a B2W caiu, 10% e a Via Varejo, 8%. No decorrer da semana, porém, houve alguma recuperação. O Magazine Luiza conseguiu, até sexta-feira, restituir cerca de 45% do valor de mercado perdido, enquanto a Via Varejo reconquistou cerca de 21% de suas perdas e a B2W, 6,7%, de acordo com dados da consultoria Economática.
O professor de finanças da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) Keyler Carvalho Rocha chama a atenção do investidor para o comportamento dos papéis nesses movimentos. Para ele, no longo prazo, dependendo da performance da Amazon, as coisas podem piorar para as outras varejistas, mas elas não vão ficar paradas e devem reagir à concorrente.
Reação
Analistas de mercado dizem acreditar que há sinais que devem impulsionar as empresas brasileiras, como os números recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mostram alta de 4,3% das vendas do varejo em julho, ante o mesmo mês do ano passado, e o início da liberação de novos saques de até R$ 500 do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
O Mercado Livre, concorrente latino-americano no e-commerce que tem o Brasil como principal mercado - e que também sofreu perdas de 3,85% no valor de suas ações na Bolsa Nasdaq na última semana -, minimiza os efeitos da entrada da Amazon Prime no Brasil.
"Não nos faz acordar mais cedo nem dormir mais tarde. Nossa estratégia sempre foi no longo prazo", afirmou Leandro Bassoi, vice-presidente de Mercado Envios para a América Latina da empresa.
O gestor de fundos multimercados da Versa, Luiz Fernando Alves, salienta que a Amazon não é à prova de falhas. Segundo ele, o lançamento da semana passada foi um movimento de "um novo competidor em um mercado competitivo".
"Olhando para as empreitadas ao redor do mundo, a Amazon não é um sucesso garantido. No longo prazo, isso deve ser apenas um ruído", diz. Ele cita a saída da empresa da China, em maio, por não conseguir vencer a concorrência local.
Já Henrique Bredda, gestor da Alaska, conhecido pelas apostas no Magazine Luiza, defendeu no Twitter as vantagens de logística da varejista nacional que já oferece entrega em 48 horas em 200 cidades do Brasil, sem taxa mensal.
Volatilidade
Isso não quer dizer que os anúncios da Amazon ainda não possam trazer instabilidade às ações das gigantes nacionais do setor - até porque a americana tem muito poder de investimento. Considerado o mercado global, segundo a Economática, a Amazon tem o dobro de valor de mercado da sua maior rival, a chinesa Alibaba.
Para o analista-chefe da Necton, Glauco Legat, a força da empresa americana deve ser sempre levada em conta pelo investidor. "Há fatores que diminuem o impacto dessa entrada. E um deles é a perspectiva de crescimento do consumo brasileiro baseado nos últimos índices com pequenas melhoras e ações (de governo), como a liberação do FGTS."
Ele lembra, por outro lado, que não é possível ignorar o tamanho da concorrente que chegou ao mercado brasileiro. "As varejistas brasileiras, como Magazine Luiza, têm boa estrutura logística para competir, mas no nível global esse jogo fica complicado", completa Legat.
O analista da Guide Investimentos, Rafael Passos, alerta que a volatilidade vista nos papéis das empresas brasileiras durante a semana passada pode se repetir no curto prazo. "A princípio, as ações ficam pressionadas para baixo. A cada anúncio da Amazon, haverá esse movimento." Por essa razão, durante o ano, apesar da curva de alta, as ações das varejistas já tinham sofrido oscilações.
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