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Indústria

“Ameaça cambial” volta à tona

Jean Paulo Almeida Silva, da Tricofort: “negociação com fornecedores e corte na margem têm limite” | Antônio Costa/ Gazeta do Povo
Jean Paulo Almeida Silva, da Tricofort: “negociação com fornecedores e corte na margem têm limite” (Foto: Antônio Costa/ Gazeta do Povo)
Veja infográfico – O real continua na rota da valorização |

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Veja infográfico – O real continua na rota da valorização

A queda da cotação do dólar para perto de R$ 1,70 fez com que o governo taxasse com o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) os investimentos estrangeiros no país. Por trás desse movimento está a discussão sobre o risco de a valorização do real causar a desindustrialização do país. Desta vez, o argumento de quem vê uma "ameaça cambial" à indústria nacional é reforçado pela concentração das exportações em itens básicos e um provável recuo de 7% na produção do setor neste ano.O debate em torno da desindustrialização ainda não é conclusivo. Economistas como o ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira e o professor da Fundação Getulio Vargas Yoshiaki Nakano, e instituições como a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) estão entre os que chamam a atenção para os sinais do deslocamento da indústria nacional por competidores estrangeiros – fenômeno que ocorre tanto internamente, com a entrada de importados, quanto no exterior, com a perda de mercados consumidores. Segundo eles, o real ganhou força com o "boom" na exportação de produtos básicos, como soja e minério de ferro, o que deu início a um ciclo que tira a competitividade de outros setores.Como os itens básicos, ou commodities, do Brasil são muito competitivos, seus produtores têm estímulo para continuar exportando mesmo com uma cotação do dólar desfavorável. Isso causaria uma distorção no funcionamento do câmbio flutuante, que não seria corrigido ao longo do tempo – teoricamente, o real deveria perder força após um período de valorização, mas isso não ocorre com a exportação contínua de commodities. No longo prazo, segue o argumento, a pauta de exportações seria concentrada em produtos básicos e o consumo de manufaturados seria abastecido por importações."Mesmo antes da crise, estava claro que a produção de manufaturas perdia competitividade. É uma tendência muito ruim para o país no longo prazo, porque ele fica dependente de importações", diz o economista Rogério de Souza, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Em um estudo recente, o Iedi demonstrou que o desempenho foi pior nos segmentos de baixa ou média-baixa intensidade tecnológica. A produção industrial de outubro de 2008 a março deste ano, quando foi sentida a crise global, foi 11,5% maior que no mesmo período de 2003. A alta foi de apenas 5% para setores de baixa intensidade tecnológica e de 1% nos de média-baixa intensidade. Isso mostra que são indústrias intensivas em mão de obra, como a de calçados e vestuário, que estão perdendo terreno.Quem vê o risco da desindustrialização rondar o país ressalta que o processo é muito lento, mas visível. De 2004 a 2008, a participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) caiu de 30,1% para 27,9%. "A indústria tem crescido menos do que o resto da economia nos últimos anos por causa de uma combinação de variáveis, entre elas o câmbio", diz o economista Mariano Laplane, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Juros altos, pouco investimento em infraestrutura e baixo crescimento no resto da América Latina aceleram a tendência."

AlarmismoPara analistas menos inclinados em aceitar a tese da desindustrialização, o Brasil passa por um movimento normal de concentração em setores nos quais é mais competitivo. Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Santander, tem publicado textos em que chama a atenção para dois argumentos. O primeiro é que o desempenho da indústria que vende para outros mercados foi muito melhor do que o da que se concentra no mercado interno. Uma pesquisa do IBGE mostra os segmentos de alta intensidade exportadora crescendo o dobro que os de baixa.

Outro argumento é o de que o atual ciclo de concentração da pauta exportadora em itens básicos é passageiro. Nos primeiros oito meses de 2008, as commodities respondiam por pouco mais de 37% dos embarques, participação que pulou para 42% no mesmo período deste ano. A dos manufaturados fez caminho inverso, caindo de 46,6% para 42,8%. Como os compradores de bens acabados brasileiros são os Estados Unidos e vizinhos da América Latina, onde a recuperação econômica é mais lenta, espera-se que haja uma retomada nas vendas de manufaturados nos próximos meses.

"O mercado já projeta um crescimento acima de 6% para a indústria no ano que vem. Isso não é desindustrialização nem aqui, nem na China", diz o economista Simão Silber, professor da Universidade de São Paulo (USP). Para ele, o Brasil precisa lidar com o fato de que tem um agronegócio muito competitivo corrigindo gargalos, como a estrutura tributária, que prejudicam outros setores. "Como o Brasil está saindo bem da crise, não há muito como segurar a valorização do real. Para a indústria, é hora de usar o câmbio baixo para se modernizar."

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