15,7% deverá ser o nível dos reservatórios das regiões Sudeste/Centro-Oeste até o fim de novembro, segundo previsão do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Ontem, o nível estava em 36,3% da capacidade, o menor desde o racionamento de 2001.
Sobrecarga
Apesar da capacidade comprometida dos reservatórios e da falta de chuvas no horizonte próximo, as hidrelétricas estão operando a toda carga e bancando o aumento do consumo de energia que deveria ser suprido pelas térmicas. A geração hidráulica no Sistema Interligado Nacional aumentou 14,1% em janeiro e 6,2% em fevereiro frente os mesmos meses de 2013. "Enquanto isso, as usinas térmicas estão gerando abaixo da sua capacidade", diz Roberto D´Araújo, diretor do Instituto Ilumina. Parte da perda de eficiência das térmicas se deve ao fato de as usinas terem sido construídas para atender a demandas pontuais e não para operar na base do sistema. Desde o final do ano passado, porém, o parque térmico brasileiro vem sendo usado ininterruptamente e sem qualquer previsão de redução da dependência.
Consumo
Ao ignorar possibilidade de faltar luz, governo incentiva o desperdício
Duas variáveis relevantes vão determinar o futuro do setor elétrico a partir de abril na avaliação de especialistas do setor: as chuvas ou a redução do consumo de energia. "Enquanto o primeiro aspecto está fora do controle do governo, o segundo só depende dele. Mas é impossível contar com a colaboração da sociedade em direção ao racionamento do consumo se o governo negligencia a real situação do setor elétrico para a população", diz Cláudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil.
O governo continua transmitindo informações que são constantemente desmentidas pela realidade dos fatos. Os consumidores acham que a conta de luz ficou mais barata, mas a maioria não faz ideia dos efeitos dessa redução para o setor elétrico. "Cada megawatt que não economizamos custa hoje R$ 822 que serão pagos pelo consumidor. Se as pessoas soubessem disso, economizariam", afirma Roberto DAraújo, presidente do Instituto Ilumina. Apesar desse cenário, o Ministério de Minas e Energia continua afirmando que o sistema elétrico brasileiro "dispõe de equilíbrio estrutural capaz de garantir, sem restrições, o abastecimento do país" e que não há risco de racionamento.
O último mês da temporada de chuvas começou com más notícias para o setor elétrico. As precipitações em abril devem ficar abaixo da média e não serão suficientes para elevar o nível dos reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste (SE/CO) que representam 70% da capacidade de geração do sistema antes do início do período seco. Se a previsão se confirmar, as usinas térmicas não serão desligadas até que as chuvas voltem a cair com força no Sudeste, o que deve acontecer só a partir de dezembro. Até lá, o rombo bilionário do setor deve passar de R$ 20 bilhões e os consumidores terão de conviver com o risco de racionamento de luz.
Veja a situação dos reservatórios
Mesmo com o cenário desfavorável, o governo continua apostando o futuro do setor elétrico nas chuvas, escassas até agora. A última previsão do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) é de que os reservatórios do SE/CO chegarão ao final de abril com 40,7% da capacidade. Para isso, é necessário que chova 83% da média histórica nessas regiões até o fim do mês. Em março, a afluência foi de 64%. "Abril marca o declínio das precipitações. A média histórica de chuvas em abril costuma ser baixa, a metade da registrada em março", afirma o meteorologista Mozart Salvador, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Mesmo que ocorram chuvas regulares de abril a agosto, as médias são muito baixas, ressalta o meteorologista. Além disso, chuvas aleatórias não bastam. É preciso que chova regularmente nos locais certos. Em Minas Gerais, por exemplo, é necessário que as chuvas ocorram do centro para o sul do estado. Já em São Paulo, do norte para o centro do estado, regiões em que estão as principais bacias hidrográficas que abastecem os reservatórios.
Para que o sistema consiga suportar a escassez de água até o início da próxima temporada de chuvas, os reservatórios precisariam chegar ao final de abril com, no mínimo, 43% da capacidade máxima, segundo afirmou Hermes Chipp, presidente do ONS.
Com a previsão revisada para baixo, o próprio operador aponta que o nível dos reservatórios nas regiões SE/CO pode cair para 15,7% até o fim de novembro. Um relatório do banco JP Morgan sinaliza um cenário ainda mais pessimista: 13,3% de capacidade em dezembro. Com esse resultado, os reservatórios estariam muito próximos do limite de operação e o abastecimento estaria comprometido em 2015 ou seja, o custo de acionamento das térmicas pode continuar no ano que vem.
Ontem, os reservatórios do SE/CO operavam com 36,3% da capacidade, o menor nível desde o racionamento em 2001. A energia natural afluente na região volume de energia que pode ser produzida de acordo com o regime de chuvas caiu 59,1% em fevereiro em relação ao mesmo mês de 2013.
Hidrelétricas
Projetos que podem gerar energia de meia Itaipu estão parados
Enquanto as usinas térmicas ganham cada vez mais espaço na matriz energética brasileira, outras fontes de energia, como as pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), enfrentam a morosidade do processo de licenciamento ambiental e da aprovação dos projetos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Em consulta feita no último dia 28 no site da agência reguladora constavam 1.551 projetos básicos de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) em fase de análise, alguns desde 2001.
No caso do Paraná, existem projetos aguardando liberação desde 2008. Segundo Ivo Pugnaloni, diretor da consultoria Enercons, neste momento de risco crescente de racionamento de energia, o segmento de PCHs poderia contribuir com 7 mil megawatts (MW) para o sistema se os projetos parados na Aneel fossem aprovados.
"Isso equivale à metade da potência de Itaipu", destaca Pugnaloni, que também é diretor da Associação Brasileira de Pequenas Centrais Hidrelétricas (Abrapch) e investidor desse segmento.
Usinas prontas
Outros 2,5 mil MW, de PCHs já prontas, poderiam ser acrescentados ao sistema se essa energia fosse vendida nos leilões de energia a um preço viável, afirma o consultor.
"O preço justo para a maioria das hidrelétricas pequenas seria R$ 165 o MW, mas o governo quer vender a R$ 144, no máximo, o que inviabiliza o investimento. Parece que o governo tem mesmo uma predileção pelas termoelétricas, mais caras e poluentes", explica.
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