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Curitiba – Desde o seu surgimento, em junho do ano passado, o Google Earth atravessou diversas fases. Primeiro, a ferramenta foi vista como mais uma maravilha tecnológica proporcionada pela internet. Logo em seguida, ela foi adotada por milhões de usuários ao redor do globo com os mais diferentes propósitos – mapear cidades visitadas, sobrevoar pontos turísticos, lecionar geografia e bisbilhotar áreas de acesso restrito ao grande público.

E foi a partir dessa última curiosidade, satisfeita em grande parte pelo programa, que um clima de paranóia começou a dominar governos dos quatro cantos do mundo. A Índia, que disputa regiões fronteiriças com o vizinho Paquistão desde a década de 60, proíbe a divulgação de fotos aéreas de pontes, aeroportos, quartéis militares, entre outras construções consideradas estrategicamente perigosas se colocadas à disposição do inimigo. Por isso, o governo de Nova Délhi talvez seja o mais estridente nas reclamações contra o serviço do Google. "O programa pode comprometer seriamente a segurança nacional", disse V. S. Ramamurthy em um artigo do New York Times, quatro meses atrás.

Esse sentimento logo se espalhou para outros países em que questões militares são assuntos de Estado de primeira grandeza. Coréia do Sul, Israel e Rússia são apenas alguns exemplos de nações preocupadas com a observação que vem do espaço. "Os terroristas não precisam mais fazer o reconhecimento de seus alvos. Uma empresa americana já faz esse serviço para eles", exagerou, de acordo com a agência de notícias oficial Itar-Tass, o tenente-general russo Leonid Sazhin, do Serviço de Segurança Nacional, órgão que sucedeu à famosa KGB.

Por mais que os militares se sintam ameaçados, só resta a eles reclamar. Isso porque as fotografias que compõem o mosaico do Google Earth são adquiridas de diversos bancos de imagens ao redor do mundo. Com ou sem o programa, essas fotos são, portanto, acessíveis a qualquer pessoa disposta a encontrá-las. "Não acredito que um terrorista dependa de um software básico para cumprir seu objetivo de violência", opina o professor de geografia Leandro Guimarães, que já usou a ferramenta em suas aulas (veja box). "Mas o grau de detalhamento de certas regiões assusta", completa.

A lógica do professor faz todo o sentido quando se observa que o Google Earth não trabalha com imagens em tempo real. Algumas, inclusive, chegam a ter mais de dois anos. De acordo com a empresa de Larry Page e Sergey Brin, a atualização completa será feita a cada 18 meses. Como a lei norte-americana permite a comercialização de imagens de satélite desde os anos 90, pouco (ou nada) pode ser feito para impedir o Google ou qualquer outra empresa de publicá-las. Novos satélites de reconhecimento e observação lançados por países que ainda engatinham na exploração espacial (incluindo o Brasil e a China) devem aumentar ainda mais a oferta de fotografias tiradas a centenas de quilômetros de altura.

Um exemplo da paranóia em torno do serviço veio do próprio governo dos Estados Unidos, cuja legislação permite ao governo tirar do ar imagens potencialmente danosas à segurança nacional. O entorno da Casa Branca, da residência oficial do vice-presidente Dick Cheney e do Pentágono, em Washington, já foram bloqueados, para depois serem divulgados apenas em resolução baixa. Hoje, as imagens voltaram ao normal – com bom grau de detalhamento.

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