O agronegócio sul-americano tem portas abertas, mas muito trabalho pela frente para ganhar mercado fora do Mercosul e dar sobrevida ao crescimento verificado nos últimos anos. No entanto, depois de se aproximar da China, se necessário, vai "falar" russo e indiano como estratégia para embarcar mais carnes e grãos. As discussões do primeiro dia do 2.º Fórum de Agricultura da América do Sul que é realizado pelo Agronegócio Gazeta do Povo e termina hoje em Foz do Iguaçu mostraram que Rússia e Índia representam oportunidades chave para a região nesta década.
Embora a construção das relações comerciais esteja em articulação, agentes públicos e privados olham para o mercado indiano como saída para a produção agrícola. E para o russo como zona de expansão para a pecuária. Mas faltam acordos comerciais, ajustes sanitários e até abertura de novas pontes aéreas que facilitariam viagens de negócios.
"O Brasil tem a chance de aproveitar a janela das restrições russas à importação de carne norte-americana e europeia [de um ano] para estabelecer mercado", disse Rinaldo Junqueira de Barros, que atuou quatro anos como adido agrícola do Brasil em Moscou e participou do painel "O campo e o Brics". O acordo que o Mercosul negocia com Moscou é um passo decisivo nesse sentido.
A participação brasileira nas importações russas de carne suína, por exemplo, subiu de 21% para 46% do ano passado para cá, enquanto a da União Europeia caiu de 61% para 7%, mostrou o diretor-geral do Instituto de Pesquisas de Mercados Agrícolas, Dmity Rylko, palestrante que veio da Rússia para o Fórum. Sua exposição mostrou que o Brasil nada contra a maré. A Rússia está aumentando a produção de carnes e reduzindo as importações. Tem interesse em manter relações comerciais com a América do Sul para exportar trigo.
A agricultura sul-americana volta-se para a Ásia. "A Índia trocou de governo e está implantando programas para voltar a crescer a taxas de 7% a 8% ao ano. E vai importar mais óleo bruto [combustível], óleo de soja e açúcar", apontou o executivo Lalit Khulbe, executivo da indiana United Phophorus Limited (UPL), que está no Brasil há nove anos. Após investir US$ 150 milhões no mercado brasileiro de fertilizantes e sementes, a empresa vê no Brasil sua principal zona de expansão, complementa.
A ampliação dos negócios no Brics é um projeto coletivo, apontou. "A meta é dobrar os negócios envolvendo os cinco países, que hoje somam US$ 42 bilhões [ano], em três anos." Como a Rússia, a Índia também quer ampliar exportações para a América do Sul, com produtos de Tecnologia da Informação (TI) e medicamentos, citou.